terça-feira, 27 de março de 2012

ROMA - ENTENDENDO OS MONUMENTOS A PARTIR DA HISTÓRIA

Para que uma viagem à Roma, Cidade Eterna, seja melhor aproveitada, importante entender cada detalhe histórico que culminou com o que temos hoje no centro histórico da cidade. Nesse sentido, as ruínas  são melhor entendidas se houver uma abordagem histórica significativa do porquê de sua existência.

Assim, a idéia é contar uma história resumida do maior império que já existiu - o Império Romano - e do período após a sua derrocada, para situarmos cada um dos monumentos e pontos importantes da capital italiana que foram visitados.

753 a. C. Nesse ano, diz a lenda, Roma foi fundada por Rômulo, após este matar Remo, seu irmão. Segundo ainda a lenda, Rômulo e Remo foram atirados ao Rio Tibre, sendo alimentados por uma loba (a "lupa capitolina"), antes de serem recolhidos por pastores.

"Lupa Capitolina". A loba, Rômulo e Remo. Museus Capitolinos, Roma
A origem histórica, no entanto, indica que Roma foi fundada ainda antes, em 1.000 a.C, por latinos que se estabeleceram na colina do Palatino em busca de uma condição de vida digna.

Após a criação de Roma, seguiu-se a realeza, a república e o império.

A fase da Realeza deriva mais de fontes lendárias que históricas confiáveis. Não comprovada historicamente, teve como reis, supostamente, Rômulo, Numa Pomplío, Túlio Hostílio, dentre outros.

Por sua vez, a República romana  é reconhecida como um período de expansão do império, tendo como destaque a conquista da região onde se situa a Itália nos dias de hoje, da Gália e as três Guerras Púnicas, entre Roma e Cartago (Cartago era um grande império do norte da África, onde hoje se localiza a Tunísia). O principal nome do período é o general Caio Júlio César, cuja frase mais famosa é a "vim, vi, venci". Na República, destacam-se ainda a grande influência do Senado Romano, composto dos mais abastados, e a luta de classes travada entre patrícios (mais influentes) e plebeus (casta mais popular). Os plebeus sofriam grande discriminação, não podendo, por exemplo, serem juízes. 

No tocante aos monumentos, temos que a maioria ainda requer descoberta por escavações. Hoje em dia, dois relativos ao período republicano se destacam: o "Templo de Saturno", no Fórum, e o Fórum Boarium, em Aventino (este incrivelmente preservado, valendo a visita).

Aliás, Roma é sempre um canteiro de escavações, já que há muita história escondida nos seus subterrâneos. Por essa razão, o sistema de metrô da cidade hoje é um dos menos eficientes da Europa.

A fase Imperial, mais difundida na história, notadamente devido aos "doze césares" - lista que inclui nomes como Otávio Augusto (o fundador), Nero, Calígula, Tito, Vespasiano, caracterizou-se pelo crescente imperialismo. Posteriormente aos doze césares, Roma experimentou vários outros imperadores (a exemplo de Trajano, Caracala, Probo - esse era incorruptível, Diocleciano, dentre outros), até se chegar a Constantino (306 d.C), que deu ao Cristianismo liberdade de culto e em Teodósio (379 d. C), que dividiu o Império Romano em duas partes: o "Império Romano do Ocidente", com capital em Roma; e o Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla (hoje Istambul).

A decadência do Império Romano deveu-se a uma série de fatores, como o imperialismo exarcebado, que consumiu boa parte dos recursos do Estado; a crise econômica; a penetração dos bárbaros (vândalos, ostrogodos, visigodos, dentre outros); impostos elevados; imperadores incapazes; dentre outros.

No tocante aos monumentos históricos da cidade eterna, a maioria pertence à essa época.

Assim, temos o Coliseu (já objeto de um post específico), o Fórum Romano (centro comercial da Roma antiga - importante: alguns monumentos datam de a.C, portanto, mais próximos do auge da República), o Palatino, as Termas de Caracalla e o belíssimo "Templo de Todos os Deuses" Pantheon.

Curiosamente, as "basílicas" existentes no Fórum eram, na verdade, os locais onde se travavam as discussões jurídicas. Ou seja, as basílicas eram os fóruns. Fórum é o designativo de centro da vida romana, a totalidade, não tem o sentido que emprestamos hoje à palavra.

Arco de Constantino. Roma, Itália.

Coliseu por dentro. Roma, Itália. Escavações mostram onde os animais e gladiadores ficavam esperando as lutas.



Templo de Antonino e Faustina. Fórum Romano.

Vista geral do Fórum Romano. Centro comercial já na era republicana e com auge na fase imperial.
Palatino. Uma das sete colinas de Roma.  Esse, o "stadium", onde ocorriam corridas.

Já no tocante às ruínas das Termas de Caracalla, vale ressaltar que estão na região mais verde do centro histórico romano. Realmente, é de uma beleza incrível esse local - juntam-se às Termas o "Roseto Municipal", os vestígios do Circo Mássimo e, bem próximo ainda, o bairro típico mais interessante da Cidade Eterna - o Trastevere.

O interessante das termas é que elas, na verdade, eram um espaço de diversão. Além da função de serem banhos públicos, as termas ainda concentravam bibliotecas, lugares para prática de esportes e porque não, lugares para se paquerar também. Milhares de pessoas diariamente frequentavam os locais.

A mais famosa de todas era a imensa obra de Caracalla.

Os banhos, nessa época, eram verdadeiros rituais. Primeiro, o banhista exercitava-se no pátio; depois, despia-se no vestiário para só então iniciar a série de banhos que seguia, basicamente, o caminho quente - morno - frio.


Ruínas das Termas de Caracalla. 3.000 pessoas por dia tomavam banho e conversavam por aqui.
O Pantheon, por seu turno, localizado na Piazza della Rotonda, é reconhecido mundialmente por sua influência na arquitetura européia, notadamente pela extraordinária beleza de seu domo - a altura equivale ao seu diâmetro, o que denota a perfeição de sua construção. Foi erigido em 120 d.C pelo imperador Adriano.
O fabuloso Pantheon. Obra de Adriano influenciou toda a arquitetura européia.
Após a sua derrocada, Roma viveu um período relativamente sem grandes transformações; no entanto, muitos de seus monumentos grandiosos foram construídos posteriormente ao apogeu do Império Romano, a exemplo da Fontana di Trevi, da Piazza del Campidoglio (a face urbanista de Michelângelo, que projetou os edifícos e o belíssimo calçamento geométrico), a Gesú (igreja jesuíta do século XVI), Santa Maria Maggiore e San Giovanni in Laterano (onde os papas eram coroados até 1870).


Piazza del Campidoglio. Obra marcante de Michelângelo urbanista. Roma, Itália
É conveniente destacar também, nesse esboço histórico romano, a existência concomitante às eras mencionadas do regime do "papado". Destacam-se nessa história a construção da Basílica de São Pedro (século XVI), os "Museus Vaticanos" e sua "Capela Sistina" (século XVI) e o Castelo Sant´Angelo (século II d.C).

Em 1870, a Cidade Eterna transformou-se em capital da república italiana unificada. O "Vittorio Emanuele" é o monumento símbolo da Itália moderna, uma vez que data de 1911, tendo como objeto de homenagem justamente o primeiro rei da unidade italiana - Vittorio Emanuele II.

Monumento a Vittorio Emanuele. Roma, Itália.
Roma sempre teve vocação para ser criadora e criativa. Assim como Grécia e Egito, é  berço da cultura humana, deixando como legado a influência que sua língua, o latim, teve sobre muitas outras modernas (incluindo o português, o italiano, o francês, o romeno, dentre outras) , além do seu sistema jurídico único - a codificação civil atravessou gerações e até hoje inspira legislações em todo o mundo.

Enfim, trata-se de de um dos maiores legados culturais já deixados por um império na história da humanidade. E também um dos maiores períodos de dominação, já que Roma dominou o mundo por cinco séculos.

E para que a visita a Roma hoje seja mais rica, importante associar todos os seus monumentos aos detalhes históricos. Sem essa visão, a viagem torna-se pouco construtiva e vazia de conteúdo, afinal de contas, ruínas e monumentos só tem significado se conhecermos o legado histórico que está por trás de cada um deles.

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