domingo, 25 de novembro de 2012

FLORENÇA, PODER E GLÓRIA RENASCENTISTA!

O mundo possui muitas cidades que são verdadeiros ícones, sejam históricos, financeiros ou mesmo culturais. Florença, ou Firenze para os italianos,  é uma destas cidades ícones, notadamente na vertente das urbes históricas: ali foi o berço de um movimento que transformou para sempre a história das artes e da cultura e delineou o que seria o caminho do homem moderno. Tal movimento foi aclamado pela história como o "Renascimento".


Perspectiva de Firenze a partir da Piazzale Michelangelo. 
O "domo" da "Duomo de Firenze" em destaque.
O Renascimento, ou "Renascença", vale abrir um parênteses, foi um movimento cultural, ocorrido entre os séculos XIV e XVI na Europa, que definitivamente mudou a história da humanidade, deixando basicamente três legados: o humanismo, ou seja, a noção da individualidade humana, atrelada à liberdade e à dignidade; o ideal de cidadania (que é um conceito fundamental para o desenvolvimento do capitalismo), decorrente da autonomia da cidade florentina, governada por artesãos e comerciantes, não por um senhor feudal; e, finalmente, o grande volume de tesouros artísticos, desenvolvidos por artistas do porte de Michelângelo, Da Vinci,  Raphael, Botticelli, Donatello, Brunelleschi, Ghiberti, Giotto, Uccelo, Fra Angelico, Masaccio e Fillipo Lippi. Além destes, interessante lembrar, como filho ilustre da terra florentina, o poeta Dante Alighieri, famoso por sua obra literária chamada "A Divina Comédia".

Vale destacar que o Renascimento foi forjado e financiado a partir do apogeu do sistema republicano de governo de Florença, cuja base econômica era a fabricação de lã.

Em 1982, o centro histórico de Florença, merecidamente, ganhou o título de "Patrimônio Mundial da Humanidade", dado pela UNESCO.

A história de Florença, como de praticamente todas as cidades toscanas, começa antes do nascimento de Cristo, com os etruscos, que se estabeleceram inicialmente em Fiesole, uma pequena e bucólica cidade no alto de uma colina, a cerca de 8 quilômetros da urbe símbolo do renascimento.

Após o domínio etrusco, iniciou-se o romano, sob o comando de Júlio César, que ali fundou "Florentia", anos antes do nascimento de Cristo. A seguir, vários eventos hístóricos ocorreram no berço do movimento renascentista: a era de invasões bárbaras na cidade;  a transformação de Florença em capital da Toscana, no ano 1.000, por Ugo da Toscana; o poderio marcante na era medieval;  a grande peste que dizimou grande parte da população florentina, em 1348; as lutas políticas ocorridas entre Guelfis (partidários do Papa) e  Ghibelinis ( a favor do sacro império romano) e, finalmente, o poder dos Médicis. Os Médicis, aliás, são responsáveis por algumas das grandes obras da cidade que coincidem com o florescer do renascimento cultural.

A maior atração turistica de Florença é mesmo a sua belíssima Catedral, ou Duomo de Firenze, também chamada de Santa Maria Del Fiore. Aliás, a Catedral de Firenze é uma das três maiores atrações turísticas da Itália, juntamente com o Coliseu de Roma e aTorre de Pisa. Não sem razão. Trata-se de uma das maiores obras artísticas da história da humanidade.

Vale destacar uma diferença que, às vezes, passa desapercebida da maioria das pessoas, mas é muito curiosa. Duomo (italiano) e Domo (português). Embora parecidas, são palavras totalmente diversas. "Duomo", vem de "casa do senhor", e passou a ser o designativo de catedral, na língua italiana. Assim temos, Duomo de Firenze (a Catedral de Firenze, a principal igreja), Duomo de Pisa, Duomo de Siena ou mesmo Duomo de San Gimignano. Já "domo" designa a cúpula da igreja . Assim, temos o "domo" da Catedral de Firenze (o domo da Duomo), aquela enorme estrutura feita por Brunelleschi, o "domo" da Basílica de San Pietro, no Vaticano, de onde se e possível ver toda a cidade eterna e os belos jardins do  Papa. Assim, em arremate, a "Duomo de Firenze" possui um domo.

Feita esta interessante distinção, vale destacar que o conjunto Catedral - Batistério - Campanário de Florença é um dos mais belos tesouros artísticos do mundo.

Ali, forjou-se uma das maiores rivalidades do Renascimento, mas que também mudou a história da arte - Brunelleschi versus Ghiberti. Dica de livro precioso para entender o tema: "A Disputa que Mudou a Renascença - Como Brunelleschi e Ghiberti Marcaram a História da Arte", de Paul Robert Walker. Este livro conta, em detalhes, todo o processo, complicado, da rivalidade, às vezes desonesta, entre os dois artistas, que acabou empatada- enquanto Ghiberti foi responsável pelos portões do Batistério, Brunelleschi construiu, anos depois, a famosa cúpula da Catedral, que mereceu elogios até mesmo de Michelangelo.

A Catedral de Firenze, um pouco do Batistério e o famoso domo ao fundo.
O destaque da Catedral fica mesmo por conta do "domo" (cúpula) de Brunelleschi, finalizado em 1463, com 107 metros de altura. Brunelleschi é um artista de extrema importância na história das artes. Após a derrota para Ghiberti na disputa pela realização dos portões do Batistério, tornou-se arquiteto, viajou a Roma com seu amigo Donatello e, após isso, revolucionou a arte ao construir o seu domo em firenze. Estudiosos de arquitetura ressaltam o seu pioneirismo na construção de dupla camada e na introdução de uma técnica de perspectiva linear nos projetos arquitetônicos.

A cúpula  (domo) da Catedral de Firenze. Uma das mais marcantes obras renascentistas.

No interior da Catedral, destaque para o afresco do domo, obra de Vasari e Zuccaro; e do quadro "Dante e seu Poema", com uma bela retratação do humanismo.

Por sua vez, o espetacular "Batistério de São João", junto à Catedral, merece algumas palavras elogiosas. Ali temos, por exemplo, as fabulosas portas de bronze (Norte e Leste) desenhadas e esculpidas por Lorenzo Ghiberti -um primor renascentista. Michelangelo chamou a obra-prima - o portão leste -de "Portão do Paraíso". Não sem razão. Ali estão retratadas várias passagens do Velho Testamento, de uma maneira primorosa.

O  "Portão do Paraíso" é de uma beleza inigualável.

Outra igreja bastante apreciada em Florença é mesmo a Santa Croce.  A enorme praça em frente já foi palco de muitas coisas: reunião de fiéis que não cabiam na igreja, queima de hereges ou corrida de cavalos. Hoje, é palco, toda terceira semana do mês de junho, do "calcio storico", uma mistura de rugby e futebol, em que só não valem chutes na cabeça e golpes baixos.


A Santa Croce. Nesta praça, eram comuns as corridas de cavalo durante a era medieval.

A igreja de "Santa Maria Novella", próxima à estação ferroviária central da cidade, é outra atração imperdível. Destaque para a bela nave no seu interior, em que os pilares criam uma perspectiva de igreja muito longa. Bastante interessante a observação. Outro lugar lindo é a "Cappella Strozzi", cujos afrescos de Cione e Orcagna foram inspirados no livro "A Divina Comédia", de Dante. Há ainda um mosteiro, o "Chiostro Verde", muito bonito.

Santa Maria Novella. Um primor em uma praça muito bonita.

Dentre as praças de Florença, destacam-se duas: uma, pelo valor histórico, a "Piazza della Signoria"; a outra, pela beleza da visão de todo o centro histórico proporcionada aos visitantes - a "Piazzale Michelangelo".

A "Piazza della Signoria" é onde está localizado o "Palazzo Vecchio", antiga sede de governo da república florentina. Alias, a palavra "signoria" é designativa de comando executivo que, na cidade de Florença na era medieval, era composto por nove homens.

Piazza Della Signoria. O coração político de Florença.

O imponente "Palazzo Vecchio" destaca-se na paisagem da  "Piazza Della Signoria".

Já a "Piazzale Michelangelo" oferece a visão mais magnífica de Florença, notadamente quando o sol se põe. Para se chegar até lá, caso o viajante não esteja preparado fisicamente, recomenda-se o uso de transporte - taxi, ônibus urbano ou mesmo o "sightseeing Firenze", que tem parada por lá. Aproveitando a parada na "Piazzale", vale andar alguns metros até chegar a igreja românica "San Miniato al Monte", uma das mais bonitas de Florença.

Saindo das praças em direção às pontes, cumpre mencionar que a imagem mais famosa mundialmente de Firenze é a "Ponte Vecchio", a única não destruída na Segunda Grande Guerra Mundial. Pitoresca, formada por um conjunto de joalherias, liga o interessante bairro de artistas e cantinas chamado Oltrarno ao centro histórico.

Ponte Vecchio. A imagem mais difundida de Florença no mundo, juntamente com o Duomo.

Vale abrir um espaço para discorrer um pouco sobre o misterioso "Corredor Vasariano". Projetado por Giorgio Vasari, foi feito por encomenda de Cosimo Médici, ligando o Palazzo Vecchio, de um lado, ao Palazzo Pitti, de outro, tendo cerca de 1 km. Servia para que os Médicis pudessem se deslocar de maneira discreta entre os dois palácios. Algumas agências florentinas oferecem este passeio, bastante restrito.

Destacam-se em Florença três museus: a fabulosa "Galleria degli Uffizi", a "Galleria dell´Accademia" e o importante "Bargello".

De longe, destaca-se Uffizi ("escritório", em italiano), o principal museu de arte da Itália e um dos principais do mundo. A "sala de Botticelli" (salas 10-14, mas em um único ambiente) é, sem dúvida, a mais espetacular, com obras-primas como "O Nascimento de Vênus" e "Primavera". O museu é imenso, e a visita pode se tornar cansativa. Para evitar o cansaço físico (não mental, diga-se),  a dica é curtir uma visão do Arno e da Ponte Vecchio no andar principal da exposição. Uma visão simplesmente encantadora! Ah, e Michelangelo está ali representado em uma obra marcante da carreira dele, denominada "Doni Tondo", que é uma representação da Sagrada Família com o pequeno São João Batista.

A Galeria da Academia ("Galleria dell`Accademia), em San Marco, por sua vez, tem boas atrações, mas o maior destaque fica mesmo por conta de seu morador mais ilustre, nada mais nada menos que Davi,  a principal obra de arte de Michelângelo e a escultura mais famosa de todos os tempos. E merece realmente a fama. E nada melhor do que vê-la pessoalmente, para se ter uma dimensão desta obra de mais de cinco metros de altura (5,16m) e de 19 toneladas de peso. As fotos não dão a exata medida da perfeição dos detalhes da escultura, que incluem itens como músculos nas pernas, veias, etc. A famosa estátua ficou na "Piazza Della Signoria" entre 1504 e 1873, quando foi levada para a Accademia, em uma viagem que demorou sete dias.


Davi, de Michelangelo. A escultura mais famosa do mundo. Na Accademia.


O rosto de Davi. De um lado de visão (esquerdo), está sereno. Do outro (direito), enérgico.

A Galeria da Academia conta ainda com outras obras menos importantes, e menos impressionantes, de Michelangelo, como "São Mateus" e esculturas de escravos.

Já o Bargello é o segundo museu mais importante da cidade. O segundo, porque a Accademia, embora possua Davi, não tem uma soberba coleção de artes como este museu. Destaque para as esculturas Baco, de Michelângelo, e Davi, de Donatello.

Para quem quer conhecer mais a história da família Médici, a dica é esticar até San Lorenzo, o território dos Médicis por excelência em Florença.  Destaque, além da igreja (cuja fachada, que seria obra de Michelangelo, nunca foi acabada), para a famosa "Escadaria da Biblioteca", de Michelangelo e para a "Cappelle Medicee", que possui duas atrações principais: a "Capela dos Princípes" e a "Nova Sacristia", esta com obras de Michelangelo.

San Lorenzo. A fachada, inacabada. Obra não realizada de Michelangelo.


Na mesma região de San Lorenzo, a dica é conhecer o "Mercato Centrale" que vende as famosas trufas toscanas, além de outros itens interessantes, como o queijo "parmigiano reggiano". Um mercado muito bonito e limpo, que vale a visita.

O Mercato Centrale vende o famoso "Parmigiano Reggiano".

Florença também se destaca na culinária - a "bisteca alla fiorentina", uma carne mal passada, é o prato principal da gastronomia florentina.

A imperdível "bisteca alla fiorentina".  

Não poderia também deixar de destacar as famosas "gelaterias", o que prova que sorvete é mesmo com os italianos. Simplesmente maravilhosos! Particularmente, achei bastante gostosos os sorvetes da Grom, na Via Del Campanille, próxima ao Duomo. Os "sorveteiros" têm o cuidado de fabricarem sorvetes de acordo com a estação, justamente com os sabores de cada uma das estações. Muito interessante.

Enfim, Florença é uma cidade de múltiplas atrações, o que demanda do viajante pelo menos cinco dias inteiros para se conhecer bem e respirar esta atmosfera única, em um ambiente incrível de história e cultura.

sábado, 10 de novembro de 2012

SOB O CÉU DE CORTONA!

A Toscana é, realmente, uma região "abençoada por Deus". Além de todas as belezas naturais, temos cidades de origens etrusco-romanas, todas com apogeu na era medieval, que são verdadeiras "obras de arte" a céu aberto, dada toda a história e atmosfera do local. Este é o caso de Cortona.


A exuberante cidade de Cortona, na Toscana. As "vias" medievais são belas atrações.

Cortona, aliás, ficou mundialmente famosa a partir do lançamento, em 2003, do filme "Sob o Sol da Toscana" ("Under the Tuscan Sun"). Baseado no livro homônimo de Frances Mayes, a película conta a história de uma mulher divorciada e insatisfeita com os rumos de sua vida que, em uma viagem à Toscana, conhece a cidade medieval e resolve por lá ficar. A partir desta premissa, envolve-se com a comunidade local em uma série de situações, às vezes dramáticas, às vezes cômicas. O interessante do filme é justamente o tratamento fotográfico dado à região, sendo possível visualizar e ter-se uma idéia do que efetivamente Cortona é. Embora tenha muito de ficção, a retromencionada escritora realmente tem uma casa por lá.

Vale dizer que o filme inspirou o deflagrar de um festival cultural que hoje é conhecido em toda a Europa: o "Tuscan Sun Festival", realizado desde 2003 (final de julho e início de agosto) , ano de lançamento do filme.  Outro festival curioso da cidade é o "Archidado", de arco e flecha, que ocorre desde o ano de 1327, na última semana de maio. O "Archidado" foi realizado, primeiramente, para homenagear o casamento de um lorde de Cortona naquele ano e a tradição se manteve por séculos.

Saindo um pouco da "sétima arte" e dos desdobramentos da notoriedade proporcionada por Frances Mayes à cidade, vale destacar uma breve história deste local apaixonante.

Cortona é a urbe que simboliza mais fortemente a dominação etrusca na Toscana. Ainda há muros etruscos por lá, conforme se vê na foto abaixo ("mura etrusche" e "porta bifora etrusca").


Muro Etrusco de Cortona. Mais de 2.000 anos de hístória.

Vamos abrir um parênteses para falar um pouco sobre os etruscos.

Considerados povos de origem desconhecida, os etruscos invadiram a pensínsula itálica, juntamente com cartagineses e gregos, entre os séculos X e VII a.C. A partir das invasões etruscas, o domínio do uso e da escrita foram transmitidos para os habitantes anteriores da península. Era um povo com grande habilidade no trabalho com ferro e cobre, e tinha na agricultura e no comércio maritimo (notadamente com os fenícios, gregos e cartagineses), a base do seu sustento. A região por eles dominada, e que corresponde em grande parte à atual Toscana, era denominada "Etrúria".

Vale destacar ainda, no campo histórico, que, na Idade Média, Cortona exerceu um papel significativo no que tange ao poderio militar, resistindo bravamente à incursões de cidades fortes, a exemplo de Siena e Arezzo (esta a  mais próxima). Antes disso, em 300 a.C, já era considerada uma das mais poderosas "cidades-estado" etruscas. No século XV, foi dominada por Florença e governada pelos Médicis.

A cidade hoje conserva ares medievais e é um convite para o descanso. Várias atrações se destacam neste panorama que, mais do que desesperadamente conhecer locais, deve-se passear sem rumo.

A praça principal da cidade é mesmo a "Piazza della Republica", onde aparece, em destaque, a Prefeitura da cidade, ou em bom italiano, o "Palazzo del Comune".


O medieval "Palazzo del Comune" na "Piazza della Republica" em Cortona.

Outra atração bastante conhecida da cidade é a sua "Catedral". Construída no século XIV, tem no seu interior a pintura "Natividade", de Pietro Berrettini, ou como é mais conhecido, Pietro de Cortona.


A Catedral de Cortona, em estilo gótico.

O "Museu Diocesano" é uma das maiores atrações da cidade do alto da colina. A título de curiosidade, Cortona é a terra natal de dois consagrados pintores: Luca Signorelli e Pietro de Cortona. Ali também viveu outro expoente renascentista: Fra Angelico. Todos os três tem obras no "Museu Diocesano" - destaque máximo para "A Anunciação", de Fra Angelico. Uma pintura esplêndida!

Por fim, vale destacar os museus ligados à fase etrusca da cidade. Temos em Cortona dois que merecem a visita: o "Museo dell´Academia Etrusca" e o "Museo Nazionale Etrusco".  O mais interessante é o da Academia Etrusca, mas para se fazer uma visita guiada (importante para entender a história etrusca e os detalhes das escavações) é necessário reservar antes.

Além da Catedral, várias outras igrejas se destacam: a de "São Francisco", onde está enterrado Luca Signorelli; a de "Santa Margherita", a mais bonita no exterior e interior também - mas é preciso ser um atleta para conseguir subir até lá; e a "Nova Igreja de Santa Maria" ("Madonna del Calcinaio"), uma pérola renascentista não exatamente dentro do centro histórico (nos arredores) e com um belíssimo domo barroco.

Assim, a Cortona de .Luca Signorelli e Pietro de Cortona, imortalizada nos tempos atuais por Frances Mayes, revela-se uma linda cidade, imprescindível em qualquer roteiro que inclua a Toscana.

domingo, 4 de novembro de 2012

SIENA, TERRA DO PALIO!

A terra do "Palio", o maior festival de origem medieval da Itália; da estupenda "Catedral Gótica", a mais bela da Toscana e talvez de todo o país; do "Campo", a maior e mais imponente praça do país. E mais, a poderosa cidade medieval que desafiou a força da renascentista Florença. Eis Siena, uma cidade com um dos mais belos centros históricos medievais de toda a Itália.

A bela "Piazza Del Campo" é um lugar especial para turistas e moradores.

A história de Siena começa, como a maioria das cidades da Toscana, com os etruscos. Afinal, como dissemos anteriormente, os etruscos dominaram toda aquela região no período anterior a Cristo.

 Mas foram os romanos, ainda no século I a.C, que fundaram a cidade, chamando-a de "Sena Julia". A urbe ainda tem, como Roma, uma origem lendária, sendo atribuida ao filho de Remo a fundação da cidade.

O apogeu de Siena na Idade Média corresponde à vitória na "Batalha de Montaperti"  (1260), onde, na oportunidade, os ghibellini de Siena derrotaram os guelfi de Florença. Na mesma época, sob o "Governo dos Nove" (era comum o executivo ser constituído por nove pessoas, durante a era medieval), a cidade ganhou seus principais monumentos arquitetônicos.

Rival histórica de Florença durante a Idade Média (após a vitória de Montaperti, em 1260, chegou a ser derrotada séculos depois e governada pelos Médicis), a cidade de atuais sessenta mil habitantes ainda disputa com a cidade berço do Renascimento o título de maior atração da Toscana. Difícil dizer, cada uma delas tem sua vocação: a de Florença, o respiro do arte renascentista; a de Siena, a maravilha de ser gótica. Não tem escolha. A opção mais sensata é curtir ambas!

Não acredito que Siena seja superior à Florença em matéria de atrações. Mas acredito firmemente que a cidade merece mais que um passeio bate-e-volta, dadas as atrações e belezas de arquitetura gótica existentes no local. Dois dias inteiros na capital gótica da Toscana seriam ideais!

Vamos às atrações principais desta incrível urbe.

A "Piazza del Campo", ou "Il Campo" para os sienenses, é o lugar mais fotografado da cidade e mais conhecido mundo afora.

"Il Campo", uma das praças mais lindas da Itália. Pallazo Pubblico e Torre de Mangia.

Ali, destacam-se o "Pallazo Pubblico", a "Torre de Mangia" e o melhor museu da cidade, o "Museo Civico", dentro do "Pallazo Pubblico".

A "Piazzo del Campo" é o centro cívico e social da urbe desde o "Governo dos Nove", ainda na Idade Média.

O "Pallazo Publico" é uma maravilha gótica e é a principal atração da "Il Campo".  A sua principal atração, em seu interior, é mesmo o "Museo Civico". O museu abriga obras com cenas históricas, o que é bem interessante.  Destaque, neste museu,  para a "Sala del Mappamondo" (afrescos belíssimos de Simone Martini, sendo as obras "Maestá" e "Guidoriccio da Fogliano" as mais belas); e a "Capela", belíssima e ricamente decorada.

A "Torre de Mangia", com 102 metros de altura e 500 degraus, permite uma visão diferenciada da cidade. No entanto, é preciso paciência, tanto para subir os degraus, como para esperar a fila, já que são permitidos apenas 30 pessoas por vez na subida. O ingresso custa 8 euros.

Outro destaque bastante importante da cidade  é justamente a sua  Catedral Gótica, o "Duomo de Siena". A riqueza de detalhes impera, tanto exteriormente, quanto interiormente. É, indiscutivelmente, uma das mais belas igrejas não só da Itália, como de todo o mundo.



A linda catedral gótica. O "Duomo de Siena".
Destaque para a fachada, lindíssima e com detalhes góticos que impressionam.

No interior, vale visualizar os impressionantes pisos, dos mais bonitos dentre todas as igrejas do mundo; o "Púlpito", de Nicola Pisano, o "Altar-Mor" e o "Coral", todos impressionantes.

Junto à catedral há ainda o "Battistero di San Giovanni", onde há obras de Ghiberti e Donatello, e a "Cripta".

Mas o que faz de Siena uma cidade diferenciada é mesmo a expectativa gerada, o ano todo, pelo "Palio di Siena", o mais fabuloso festival italiano.

O "Palio di Siena" é uma festa típica da urbe, cujo ápice é uma corrida de cavalos, que ocorre na "Piazza Del Campo", ou "Campo" para os sienenses, todo dia 02 de julho, com repeteco no dia 16 de agosto, às 19 horas. São dezessete "contrades', representando bairros da cidade, dos quais dez são sorteados para o primeiro embate, em Julho. Em agosto, no segundo e mais importante embate, os sete que não foram sorteados participam automaticamente, sendo que os outros três participantes saem do sorteio entre os dez que disputaram em julho.


O Palio de Siena. Bandeiras das contrades e corrida de cavalos. Em foto de cartão-postal da cidade.

A origem do Palio é superinteressante. Os distritos sienenses, chamados "contrades", são o resultado do declínio do governo central, ainda na Idade Média. Ganharam força, e deu-se o início ao festival. O principal dos eventos, o de agosto, iniciou-se, no século XIII,  como uma homenagem à Virgem Maria e, também, como comemoração da vitória sobre Florença na batalha de Montaperti.  O festival de julho, por sua vez, só foi aprovado em 1656, e é uma homenagem à figura religiosa de Nossa Senhora, mais especificamente à "Madona di Provenzano".

Interessante observar que, no século XIII, os contrades eram em torno de 80. Desses, hoje apenas 17 lutam pela hegemonia da cidade.

Os dezessete distritos são divididos em três "terzos" (espécies de regiões da cidade): cittá (Aquila, Chiocciola, Capitana Dell´Onda, Pantera, Selva, Tartuca); San Martino ( Civetta- coruja, Leocorno, Nicchio, Valdimontone, Torre) e Camolia (Bruco, Drago, Giraffe, Istrice, Luppa e Oca). Curiosamente, muitos dos distritos são representados por animais - coruja, pantera, tartaruga, dentre outros.

O ponto alto é mesmo a corrida de cavalos, que demora menos de dois minutos. Também o tremular das bandeiras, feita por representantes de cada contrade, e os tambores constituem um grande espetáculo.

Vale destacar que existem outros "palios" por toda a Itália; no entanto, o mais famoso mundialmente é mesmo o de Siena.

É praticamente impossível assistir à festa, já que a multidão toma conta da "Piazza". Mas é possível fazer reservas com hotéis para assistir de uma posição mais confortável, já que, no meio da multidão, o turista teria que chegar bem cedo e esperar muitas horas.

Uma última dica preciosa para curtir Siena são justamente os "passes combinados". Um dos principais é o "OPA SI Pass", que, por 10 euros, dá direito á entrada no Duomo, Museu Dell´Opera, Batistério, Cripta e Oratorio de San Bernadino (atração anexa à outra igreja, a de "San Francesco).  E há, ainda, no rol dos passes principais, o "SIA Summer" (15 de março a 31 de outubro) e o "SIA Winter" (1º novembro a 14 de março), que é válido por sete dias e dá direito a inúmeras atrações. Para o Museo Civico e a Torre, há também um compensador passe combinado.

Siena, terra do Palio e da arquitetura gótica. Uma cidade imperdível na Toscana!