sexta-feira, 28 de março de 2014

KUMARI, A MENINA DEUSA VIVA DO NEPAL!

A República Democrática Federal do Nepal é, ainda, um país pouco conhecido dos brasileiros, embora sua divulgação tenha aumentado com as imagens e citações de uma novela da globo.

Situado no subcontinente indiano, na encosta do Himalaia, uma grande cordilheira, e tendo como seu ponto mais alto o Everest, com 8.844 metros de altura, o Nepal guarda grandes imagens e muitas curiosidades. Formado por diversas etnias (são mais de cento e vinte em  seu território), tem como religião dominante o hinduísmo, havendo ainda budistas nepaleses e tibetanos.

A maior de todas as curiosidades é, sem dúvida, a deusa viva do Nepal, a Kumari, um símbolo daquele país há mais de 2.500 anos.

Kumari, ao pé da letra, significa "virgem" em nepalês. É um símbolo de pureza. Designa a criança que é considerada uma espécie de reencarnação viva (e temporária!) de Taleju Bhawani, face feminina da deusa do hinduísmo  Durga (esposa de Shiva e mãe de Ganesha, dentre outros filhos).  É adorada pelos hinduístas e budistas nepaleses - os budistas tibetanos não seguem essa crença.

A deusa viva é capa até do livro turístico local.
Existem Kumaris em três cidades, todas do Vale de Katmandu: Katmandu, Patan e Bhaktapur.

A Kumari é escolhida, basicamente, dentro do clã Shakya, e geralmente tem entre três e treze anos. Treze anos é praticamente o máximo que a menina consegue manter o título temporário, uma vez que a primeira perda de sangue (menstruação, acidente ou doença) significa a perda do reinado. O processo de escolha é difícil, sendo valorizados muitos aspectos, como a perfeição da pele, por exemplo. Quem dá a palavra final é um astrólogo.

A Kumari de Katmandu geralmente aparece ao fim da tarde, na janela localizada dentro de seu palácio, o Kumari Ghar. É uma aparição rápida, e é proibido tirar fotos. Existe uma crença que, a cada aparição, deve-se dar um dízimo em moeda nepalesa em homenagem à divindade viva.

A janela de cima. Onde a Kumari aparece. Kumari Ghar, Katmandu, Nepal. 

Outra crença bastante difundida é que quem casa com a Kumari geralmente morre cedo. Geralmente os homens tem medo de se casar com elas depois do reinado, tudo por conta dessa crença. Muitas delas foram, ou são, casadas. Mas as últimas (pelo menos as quatro últimas) continuam solteiras...

Vale lembrar também a difícil vida dessas meninas, que vivem constantemente fechadas dentro do palácio e com pouco contato exterior, em um período que estariam no auge da infância. Mas crença é crença, não estamos aqui para discutir isso.
Dentro do Kumari Ghar, em Katmandu.
Uma dica: cuidado ao entrar no palácio - a porta é bem baixa...

Enfim, uma história muito curiosa. Uma adoração inédita no mundo. Adoração exótica e controversa.

quinta-feira, 20 de março de 2014

TAJ MAHAL, O SÍMBOLO DO AMOR ETERNO!

O país, Índia. A cidade, Agra.  O nome, o mais suntuoso possível: Taj Mahal. Um dos monumentos mais visitados do mundo, um dos mais simétricos, um dos mais belos, um dos mais imponentes. Uma das sete maravilhas do mundo moderno, indiscutivelmente. "Patrimônio Mundial da Unesco" desde 1983.


O fabuloso Taj Mahal, monumento indiano mais famoso no mundo.

Trata-se de um mausoléu branco suntuoso, todo em mármore, com quatro minaretes, construído pelo imperador mongol (para alguns, mogul; outros, mogol) Shah Jahan em homenagem à sua esposa favorita, Aryumand Banu Begam, a quem ele chamava de "Mumtaz Mahal" ("Joia do Palácio"; "A Primeira-Dama do Palácio", na tradução de alguns).  Construído entre 1632 e 1653, utilizando-se de mão-de-obra de cerca de vinte mil trabalhadores e mil elefantes, é um monumento que simboliza o amor eterno de Jahan por Mahal. Vale dizer que Mahal faleceu quando do nascimento do décimo-quarto filho, em complicação durante o parto, no ano anterior ao início da construção da soberba homenagem.


É paradoxal encontrar em uma cidade com Agra, tão carente de infraestrutura e com ares de aldeia rural (embora tenha mais de um milhão de habitantes, o que seria outro paradoxo!), um monumento de tal magnitude, capaz de tirar o fôlego do turista com tamanha grandiosidade, cujas paredes estão encrustadas com vinte e oito tipos de pedras preciosas, além de trabalhos soberbos e uma caligrafia lindíssima.

Ao se observar o Taj Mahal, percebemos não só uma grandiosidade externa, representada pelo monumento em si, por sua cúpula e seus minaretes, mas também uma  riqueza de detalhes impressionante. Nesse sentido, são extremamente bem trabalhados e interessantes os singelos escritos do Alcorão, em lapis-lazúli, nas paredes daquele lugar. Também merecem menção os elementos decorativos do Taj (as "pietre dure") que, geralmente, vem em desenhos de flores, que eram tidas pelos mongóis como "símbolos do reino divino".

As flores, os "símbolos do reino divino" na concepção dos moguis.

O monumento, bastante similar a uma mesquita (por razões óbvias, já que Jahan era muçulmano), mistura os estilos indiano (hindu), persa e muçulmano.

São mais de trezentos pontos possíveis para fotografia (e os turistas aproveitam bastante isso!), sendo um dos mais famosos o que está localizado próximo ao "espelho de água de Lótus", onde a água reflete o grandioso túmulo.

Basicamente, o complexo no qual está inserido o Taj Mahal, próximo ao rio sagrado Yamuna, conta com cinco estruturas: entrada principal, jardim, mausoléu, mesquita e jawab ("resposta"). Cabe ressaltar que o "Jawab" tem como única função no complexo dar equilíbrio visual ao conjunto arquitetônico, sendo uma réplica da mesquita.


A entrada principal do complexo (darwaza) no qual está inserido o  Taj Mahal.

O Taj Mahal e seus jardins.




Curiosidades sobre o monumento:

1. Shah Jahan foi enterrado no mesmo local da sua amada esposa, ao lado dela. Jahan planejava construir um Taj negro, ideia que não foi encampada por seus filhos sobreviventes. Assim, os filhos do imperador falecido causaram a única assimetria no local, enterrando Jahan ao lado de Mahal, esta localizada perfeitamente no centro do mausoléu;

2. É proibida fotografar a "Câmara Mortuária" localizada dentro do Taj Mahal. Lá dentro, é possível ver uma espécie de túmulo de Mahal ao lado de um túmulo de Jahan. No entanto, os túmulos verdadeiros não estão abertos à visitação, estando localizados em uma cripta escura no andar de baixo;

3. Reza a lenda que o imperador Jahan mandou cortar as mãos dos artesãos que trabalharam na construção do Taj, para que nunca mais fosse feita uma obra tão bela. Tal fato é desmentido por todos os guias locais;

4. O Taj tem uma mesquita, por isso é fechado às sextas aos não muçulmanos.

Como dissemos anteriormente, Agra é uma cidade com pouca infraestrutura, daí ser conveniente um dia inteiro apenas de visitação para se admirar o Taj Mahal e conhecer ainda o Forte Vermelho. Em dois dias, é possível ainda conhecer a magnífica Fakthepur Sikri (40 km de Agra) e outros monumentos menos importantes na cidade, a exemplo do Túmulo de Itimad-ud-Daulah. 

terça-feira, 4 de março de 2014

LISBOA, A TERRA DO FADO!

Portugal é uma viagem obrigatória para os brasileiros. Muito de nossa cultura, de nossas raízes e do nosso jeito de ser ali encontra a sua gênese. Um povo que chegou por aqui ainda em 1500, saindo com suas caravelas justamente de Lisboa. Lisboa, a terra do fado, da Torre de Belém, dos pastéis de nata, dos miradouros, do bonde 28. 

Como todos sabem, Lisboa é a capital e cidade mais importante e populosa de Portugal. Basicamente, a urbe portuguesa é dividida em oito regiões principais: Baixa e Chiado; Alto, Princípe Real e São Bento; Avenida da Liberdade e Rua Castilho; Alfama, Castelo e Graça; Campo de Ourique, Estrela, Lapa e Santos; Alvalade e Avenidas Novas; Belém e Parque das Nações. Dessas subdivisões, destacam-se Baixa, Avenida da Liberdade, Alfama, Belém e Parque das Nações.

A história da cidade divide-se por um momento trágico: o terremoto de 1755. Nesse sentido, há uma Lisboa anterior ao terremoto, sede das viagens das grandes navegações; e uma Lisboa pós-terremoto, reconstruída. Em 1º de novembro de 1755 (Dia de Todos os Santos), um forte abalo, dos maiores da história da humanidade (nove graus na escala Richter), praticamente destruiu a capital portuguesa, ceifando a vida de milhares de pessoas. Enormes ondas do Rio Tejo inundaram a cidade, completando o caos que se instalou ali naquele dia. Coube ao Marquês de Pombal a reconstrução da cidade. Portanto, tudo o que temos hoje em matéria de centro histórico de Lisboa data do século XVIII.

A Avenida da Liberdade (metrô Restauradores, Avenida; ônibus 2, 9, 36) é tida como a "Champs Elysees" lisboeta. E não sem razão. Há um emaranhado de árvores e muitas lojas de luxo. É comum ver belos edifícios com maravilhosas fachadas  art nouveau. Fica entre a Praça Marquês de Pombal e o coração do centro histórico da cidade. A Rua Castilho, repleta de lojas famosas, completa o passeio.


Belos edifícios compõem o cenário da Avenida da Liberdade em Lisboa.

Muitas árvores na avenida mais charmosa da cidade.
Tradicional bairro lisboeta, a Baixa tem um comércio tradicional, com muitos artistas de rua e cafés. Destaque para o Terreiro do Paço (ou Praça do Comércio), uma bela e gigantesca praça (dizem ser a maior da Europa e parece ser mesmo),  para a Praça Luís de Camões e para a Rua Garret, a rua da moda no local.

Um belo cenário português, a Praça do Comércio (Terreiro do Paço) em Lisboa. 

Destaco também o "Elevador de Santa Justa", o mais monumental da capital portuguesa. Construído em 1902,  tinha como objetivo superar um desnível de trinta metros entre a Rua do Ouro e a parte alta. Hoje, a arquitetura de ferro encanta os turistas que visitam a urbe lusitana.

Elevador de Santa Justa. 

Na mesma região, o Chiado é um ponto de comércio também bastante famoso, com muitos turistas e população jovem, na maioria estudantes.

Dizem que a alma de Lisboa tem seu endereço em Alfama. E é verdade. É ali que se encontram dois baluartes da cultura portuguesa: a religiosidade (com a presença de inúmeras igrejas) e o fado (com a existência de inúmeras casas e apresentações). É também em Alfama que temos a mais conhecida atração turística da cidade, o Castelo de São Jorge. 

O fado é a música típica portuguesa mas, acima de tudo, é música típica lisboeta. Apenas Coimbra desenvolveu uma cultura de fado à altura de Lisboa, só que com melodias mais alegres. O fado lisboeta é triste, melancólico. Maria Severa foi a primeira fadista importante, sendo até hoje homenageada pelas cantoras com os típicos xales pretos. No entanto, Amália Rodrigues (1921-1999) é, até hoje, o maior baluarte desse tipo de canção, dominando o cenário fadista por mais de cinquenta anos. Hoje, disputam a preferência popular, sendo também as minhas favoritas,  Carminho ("Fado", 2009 e "Alma", 2012), Mariza ("Fado em Mim", 2001 e "Fado Tradicional", 2010) e Ana Moura ("Desfado", 2012).

O Castelo de São Jorge (ônibus 37; bonde ou elétrico 28) é o mais antigo dos monumentos. Antes cidadela dos mouros, foi transformada em residência dos reis portugueses ainda em 1147. Após o grande terremoto, ficou abandonado até que Salazar resolveu reconstruir as muralhas e acrescentar jardins. Assim, tornou-se um dos principais mirantes da cidade. Vale a pena curtir o bonde 28. É um passeio incrível.

Belém é um bairro um pouco distante do centro histórico, mas reserva grandes atrações da cidade. A mais conhecida é, sem dúvida, a Torre de Belém (ônibus 28, 727, 729, 751; trem Belém; bonde ou elétrico 15). Construída por Manuel I, o Venturoso, no século XVI, tinha como objetivo servir como entrada e defesa da parte norte do Rio Tejo.

A Torre de Belém, construída por Manuel I, é um símbolo da cidade.

Outra obra interessante e que vale a visita é o "Padrão dos Descobrimentos" (ônibus 28, 727, 729, 751; trem Belém; bonde ou elétrico 15). Inaugurado em 1960, traz à baila exatemente a época áurea dos descobrimentos. O monumento é uma homenagem aos homens que fizeram a história dos descobrimentos durante o século XVI, como Pedro Álvares Cabral, o Infante D. Henrique, dentre outros, que aparecem em fila, conforme se vê na foto abaixo.

O Padrão dos Descobrimentos, próximo à Torre de Belém.

Vale a pena visitar, no entanto, o coração do bairro de Belém, que está a alguns minutos de caminhada da Torre e do Padrão. Ali, duas atrações são imperdíveis: os "Pastéis de Belém" e o "Mosteiro dos Jerônimos".

O "Mosteiro dos Jerônimos" (ônibus 727, 728, 729, 751; trem Belém; bonde ou elétrico 15) data de 1601. É um monumento em homenagem ao êxito da viagem de Vasco da Gama à Índia, sendo financiado pelos lucros dos comércios de especiarias asiáticas. Curiosidade: o mosteiro esteve sob a Ordem dos Jerônimos somente até 1834 - hoje todas as ordens religiosas foram dissolvidas.

O notável Mosteiro dos Jerônimos. 

Mosteiro dos Jerônimos. 

Os "Pastéis de Belém (ônibus 727, 728, 729, 751; trem Belém; bonde ou elétrico 15) são outra atração imperdível. A casa, inaugurada em 1837, é tradição pura, e vende os melhores pastéis de nata de Lisboa. Nenhum outro pastel de nata se compara a esse. Fica aberto todos os dias de 8 da manhã até as 23 horas, sempre lotado. Cuidado com os batedores de carteira, haja visto a grande aglomeração de turistas sempre existente no local.



Dentre os museus da cidade, destaque para o "Calouste Gulbenkian" (metrô  Praça de Espanha ou São Sebastião; ônibus 16, 31, 56, 726, 746; bonde 24), aberto de terça a domingos de 10 às 18 horas. É um dos belos acervos de arte da Europa, sob a batuta do milionário falecido do petróleo Calouste Gulbenkian. Destaque para Diana de Houdon, Retrato de um Velho, de Rembrandt e Santa Catarina, de Van der Weyden.

Outro museu importante é o "Museu Nacional de Arte Antiga" (ônibus 27, 40, 49, 51, 60; bonde ou elétrico 15, 18), nas proximidades do Bairro Alto.  Fecha às segundas. É o acervo nacional da arte portuguesa, englobando pinturas, esculturas e peças.

Tradicional em Portugal, o azulejo tem seu museu em Lisboa. O "Museu Nacional do Azulejo" (ônibus 60, 727, 751) é um dos principais do mundo nesse quesito. Fica em um convento de arquitetura manuelina e com traços barrocos. Mostra a evolução da fabricação dos azulejos, desde os mouros, que foram os responsáveis pela introdução, até o desenvolvimento da arte pelos portugueses.

Particularmente, gosto também da modernidade. E a modernidade em Lisboa está associada ao Parque das Nações (metrô Oriente; ônibus 5, 10, 19, 21, 25, 28, 44, 82, 750, 768; trem Gare do Oriente). O local serviu de abrigo para a Expo 98 e hoje é uma formidável área de lazer, que inclui o Oceanário de Lisboa e o Centro Comercial Vasco da Gama, o segundo melhor shopping center da cidade (o primeiro é o Colombo). Imperdível o passeio.

O Centro Comercial Vasco da Gama. 

Ainda na região do Parque das Nações, vale ficar atento à estação de metrô Oriente. Se em Moscou as áreas internas das estações de metrô merecem destaque, externamente nenhuma se compara à Oriente de Lisboa.


Estação de metrô Oriente. Lisboa.

Destaca-se também, na capital portuguesa, o belo Aqueduto das Águas Livres.  Fica fora do centro, próximo à região do Amoreiras Shopping Center, um shopping center que já foi o maior de Lisboa, mas hoje está ultrapassado por outros, como o Colombo, o Vasco da Gama e o El Corte Inglés.

Lisboa tem também dois estádios belíssimos que podem ser visitados: o da Luz, do Benfica  (metrô Colégio Militar/Luz); e o José Alvalade , do Sporting (metrô Campo Grande). 

Enfim, Lisboa tem muitas atrações. Considere ficar pelo menos seis dias inteiros na cidade (sem contar o dia da chegada e o da saída). Há ainda muitos passeios interessantes fora da cidade, como bate-e-volta, a exemplo de Sintra, Cascais, Estoril, Fátima, Alcobaça, Évora e Óbidos.