15 de agosto de 1914. Nesse dia especial, foi inaugurada uma obra que seria considerada por muitos uma das maravilhas da engenharia moderna e um marco no comércio marítimo internacional: o
Canal do Panamá. A história do Canal é intensa e fascinante, com bastante repercussão inclusive na história do interessante país da América Central.
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Eclusa de Miraflores, Canal do Panamá. |
Antes do mergulho na história da obra, é bom que se diga que o Canal do Panamá é uma abertura realizada para a passagem de navios,
do Oceano Atlântico para o Pacífico e vice-versa. A construção é um marco na engenharia, que contou com explosão de montanhas (
Corte Culebra) e enfrentamento de doenças (entre elas, as principais foram a
malária e a
febre amarela, que dizimaram cerca de 25.000 pessoas). Tem extensão de
82 km. Basicamente, três fatores contribuíram para que o Panamá fosse o local adequado para a construção do canal:
istmo estreito, um
rio caudaloso (no caso, o Rio Chagres) e um
regime de chuvas abundantes. A partir dessas adequações, a engenharia se encarregou de construir um canal com eclusas (obras de engenharia hidráulica, espécie de elevadores que permitem que navios subam ou desçam em locais desnivelados) com a água como protagonista maior.
Definido o que vem a ser o Canal do Panamá, abriremos espaço para um pouco da história bastante interessante da maravilhosa obra de engenharia.
O marco dessa história é
1513. Nesse ano,
o explorador espanhol Vasco Nuñes de Balboa (1475-1519), após atravessar com dificuldades o istmo do Panamá pela inóspita região de Dárien, descobriu o "Mar do Sul", posteriormente renomeado para "Pacífico".
A partir do descobrimento, já em 1514 a coroa espanhola demonstrava interesse em procurar uma passagem pelo estreito istmo que unisse os dois oceanos, o Atlântico e o Pacífico. Não logrou êxito em encontrar a passagem, mas mesmo assim ordenou a construção do Caminho Real, utilizado por muitos anos para o transporte de mercadorias do Peru e de outras regiões da costa do Pacífico até as feiras de Portobelo, no Caribe.
Outro marco histórico para o Canal do Panamá foi 1527, ano em que dois navegadores espanhóis chamados Hernando de La Serna e Pablo Corzo descobriram que o rio Chagres era navegável até cinquenta quilômetros rio acima de sua foz. Chagres que foi, posteriormente, o rio ligado ao Canal.
O interesse espanhol em explorar uma possível ligação entre os oceanos chamou a atenção de outros países, sendo certo que dois se sobressaíram nessa árdua tarefa: a França e os Estados Unidos.
A França ganhou o direito de explorar a região para a construção de um canal ainda no ano de
1878. Nesse ano, o congresso da Colômbia (sim, o Panamá era parte da Colômbia) aprovou o
"Convênio Salgar-Wise", que conferiu a uma empresa francesa concessão por 99 anos para a construção da ligação oceânica. Para o projeto foi chamado o construtor do Canal de Suez, o francês Ferdinand de Lesseps, que decidiu por onde deveria ser construído o canal. O marco inicial do projeto francês foi 1880, lançada a pedra fundamental na foz do Rio Grande, localizada na costa pacífica panamenha. Em 1884, já eram 17.000 homens trabalhando, a maioria de origem caribenha, contingente que foi sendo paulatinamente dizimado pelas doenças. Foram 6.300 mortes entre 1882 e 1903, sendo esse um dos principais fatores da desistência da França em construir o canal De positivo, apenas a remoção de sessenta milhões de metros cúbicos de terra, o que facilitou a exploração posterior do local..
A
fase que sucedeu a francesa foi a americana. Essa fase foi deflagrada, e decidida entre várias opções (uma era construir um canal na Nicarágua), pelo histórico presidente dos Estados Unidos
Theodore Roosevelt (1858-1919).
Em
3 de novembro de 1903 o Panamá conquistou a sua
independência em relação à Colômbia. No entanto, iniciou-se a época de domínio americano sobre o país central-americano. Tal domínio adveio da
Convenção do Canal Istmíco, ou melhor,
Tratado Hay-Bunau-Varilla, assinado no mesmo ano da "independência" do país, mais precisamente 15 dias depois - 18 de novembro de 1903, pelo qual se concedeu aos americanos uma faixa de terra de dez milhas de largura de um oceano ao outro, além de alguns bairros da capital (!) e ilhas da baía do Panamá. Enfim, o Panamá foi literalmente dominado pelos americanos a partir de 1903. Foi dominado, mas diga-se de passagem que os panamenhos protestaram, sendo o acontecimento mais marcante a revolta de 21 jovens contra o governo americano, em
09 de janeiro de 1964, que ficou conhecida como
"Dia dos Mártires". . Esse dia de descontentamento e lutas foi fundamental na recuperação do Canal para os panamenhos, que se concretizou através da celebração do
Tratado de Torrijos-Cartes em 1977. No entanto, a retirada americana somente se deu em
31 de dezembro de 1999. Desde essa data a soberania panamenha sobre seu território e sobre o Canal é absoluta. 96 anos depois da independência em relação à Colômbia, o Panamá conseguia a independência em relação aos Estados Unidos da América.
Hoje, o Canal opera a todo vapor,
24 horas por dia, 365 dias por ano. Funciona por um simples sistema:
as eclusas. Eclusas são espécies de elevadores, impulsionadas pelas águas. Considerando-se que os dois oceanos estão no mesmo nível, as eclusas tem como única finalidade elevar barcos até o nível do Lago Gatún (26 metros acima do nível do mar) para posteriormente baixá-los de novo, em operação inversa. As três eclusas tradicionais são a de
Gátun (nas proximidades do Oceano Atlântico, com três degraus), de
Pedro Miguel (um degrau) e de
Miraflores (nas proximidades do Oceano Pacífico, com dois degraus). As três eclusas comportam apenas navios Panamax.
Uma ampliação do Canal, finalizada em 2016, inaugurou mais dois conjuntos de eclusas, a saber,
Eclusa de Aguas Claras (próxima à Eclusa Gatun, com três degraus) e a Eclusa Cocoli (próxima a Eclusa de Pedro Miguel, com três degraus), que, somadas a amplição da capacidade do Lago Gatun, permitem o acesso a navios ainda maiores no Canal, os
Post-Panamax (que são os navios porta-contentores).
A eclusa mais turística, e mais próxima da capital panamenha, é a de
Miraflores. É o mais interessante local para se observar a travessia de navios no Canal e o mais próximo da Cidade do Panamá (tem até ônibus local para os turistas). Além do mirante de observação, Miraflores conta ainda com um interessantíssimo
museu sobre o Canal do Panamá, com toda a história e todas as curiosidades da magnífica obra, além de uma sala de cinema, onde é exibido um filme com a história do Canal. Uma curiosidade interessante é o uso das chamadas "
mulas", pequenas embarcações utilizadas para rebocar, frear e manter o navio centrado na câmara.Dentro do Canal o capitão do navio passa o comando para o homem que conduz a "mula".
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Eclusa de Miraflores, Canal do Panamá. |
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O Mirante de Miraflores é bastante concorrido. |
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Canal do Panamá. Miraflores. |
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Explosões para a construção do Canal. Museu do Canal, em Miraflores. |
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Quadro em exposição no Museu do Canal em Miraflores. |
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Comportas se abrindo para a passagem de um navio Panamax. Miraflores. |
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Navio fazendo a passagem. |
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Navio fazendo a passagem. |
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Navio fazendo a passagem. |
A bacia do canal conta ainda com Parques Nacionais (Chagres, Soberania, Camino de Cruces, Altos de Campana) e o Monumento Nacional Isla Barro Colorado.
Para os turistas, além dos lugares de visitação nas eclusas, há ainda a opção de atravessar o canal, em um tour que exige mais paciência - demora oito horas.
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