Segunda quinzena de outubro de 1717 (entre os dias 17 e 30 daquele mês). Naquele tempo, trezentos anos atrás, Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, o Conde de Assumar, então "Governador da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro", passaria pela Vila de Guaratinguetá, em sua trajetória para Vila Rica (atual Ouro Preto). Assim, a Câmara Municipal da vila paulista ordenou a três pescadores, a saber, João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Martins Garcia, que recolhessem nas águas do Rio Paraíba do Sul todos os peixes que pescassem, a fim de fornecer um banquete à importante figura.
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A imagem original de Aparecida, exposta atualmente na Basílica Nova. |
Ocorre que a pescaria não vinha rendendo bons frutos, mesmo com os pescadores lançando redes desde o porto de José Correa Leite até o porto de Itaguaçu. Foi aí que, em
Itaguaçu, o pescador João Alves lançou uma rede e nela veio o corpo de uma imagem. No mesmo rio, um pouco mais abaixo, lançou novamente a rede e, como resultado, encontrou a cabeça da mesma imagem. Era a imagem de
Nossa Senhora da Imaculada Conceição que, depois, foi
rebatizada como
Nossa Senhora da Conceição Aparecida ou, simplesmente,
Nossa Senhora Aparecida.
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Os pescadores e a imagem.Museu de Cera de Aparecida. |
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Pescador e a rede. .Museu de Cera de Aparecida. |
Após o recolhimento da imagem em duas partes (corpo e cabeça, posteriormente juntadas), os peixes vieram em abundância. Era o primeiro sinal dos desígnios divinos. Iniciava-se aí a devoção à
Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
Segundo os relatos de padre João de Morais e Aguiar, pároco de Guaratinguetá em 1757, a imagem ficou com Felipe Pedroso, um dos três pescadores e homem que colou com cera de arapuá a cabeça ao corpo. Passou a ser venerada pela família, depois por viajantes, até que se construiu uma capelinha no local, pelas mãos do filho de Felipe Pedroso, Atanásio.
Fato posterior, o milagre das velas indicava a presença de Deus para as pessoas. Conta-se que, em uma ocasião, em meio a orações, duas velas de cera da terra que iluminavam Nossa Senhora apagaram-se. Silvana da Rocha correu para acendê-las, mas eis que as velas voltaram a iluminar sem qualquer atitude de Silvana. Era mais um prodígio de Nossa Senhora. Outros milagres ainda viriam a acontecer, como o da menina cega (que conseguiu ver a Basílica Velha), o do escravo acorrentado (Zacarias teve as suas correntes rompidas depois de muito orar) e o do cavaleiro ateu (homem sem fé que queria invadir a Basílica Velha, mas que viu as patas de seu cavalo ficarem presas na escadaria da igreja).
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Milagre das velas. .Museu de Cera de Aparecida. |
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Milagre da menina cega. Ela enxergou a basílica de Aparecida..Museu de Cera de Aparecida. |
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Milagre do escravo - as correntes desataram. .Museu de Cera de Aparecida. |
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Milagre do cavaleiro ateu. Pata do cavalo fica presa na escadaria da igreja. .Museu de Cera de Aparecida. |
Em 1743, o
padre Vilela, percebendo a imensa devoção que se instalava naquela pequena capela, pediu a Dom Frei João da Cruz, bispo da diocese do Rio de Janeiro, autorização para a construção de uma capela maior. Foi construída no
Morro dos Coqueiros, em terreno doado e com dinheiro de esmolas, sendo abençoada em 26 de julho de 1745.
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Padre José Alves Villela, construtor da primeira capela de Aparecida. .Museu de Cera de Aparecida. |
A atual "
Basílica Velha" ou "
Matriz Basílica", que se encontra atualmente no Morro dos Coqueiros não é a mesma capela do Padre Vilela. A sua construção teve início em
1844, sendo concluída em 1888. Em 1893, o templo foi consagrado com o título de "
Episcopal Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida". Em 1908, o Papa São Pio X concedeu ao templo o título de "Basílica Menor". A imagem encontrada no rio Paraíba do Sul esteve por ali por 237 anos, até que foi levada definitivamente para a
"Basílica Nova" no dia 03 de outubro de 1982.
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A Basílica Nova de Aparecida (elevada à Santuário em 1984) e a passarela que liga as Basílicas Nova e Velha (construída nos anos setenta). |
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A Basílica Velha, ou "Matriz Basílica". |
Um fato histórico, acontecido em relação à imagem original, é digno de nota. Em 1
6 de maio de 1978, um jovem de 19 anos, vindo de São José dos Campos, entrou à noite na igreja e retirou a imagem de seu local de guarda, quebrando-a em muitos pedaços. Tal fato gerou grande comoção nacional, cabendo à restauradora Maria Helena Charduni a tarefa de trazer novamente a imagem da forma original. Com grande destreza, a restauradora conseguiu seu objetivo no mesmo ano.
Curiosamente, o
manto de Nossa Senhora Aparecida, assim como a
coroa, foram doados pela
Princesa Isabel, importante figura da era imperial brasileira (
responsável pela abolição da escravatura em 1888), em agradecimento a uma promessa feita pela monarca, na qual pediu para que conseguisse engravidar - Isabel teve três filhos.
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Princesa Isabel, que deu a coroa à Aparecida e Conde D´eu. .Museu de Cera de Aparecida. |