quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A FABULOSA MINA DE SAL DE WIELICZKA!

A Polônia tem algumas atrações de grande interesse em seu território. Auschwitz-Birkenau, Cracóvia, Varsóvia, Gdansk, Centro Histórico de Torun, Castelo de Malbork, entre outras. Mas nenhuma é tão surpreendente quanto a espetacular Mina de Sal de Wieliczka, inscrita como Patrimônio Mundial Cultural pela UNESCO desde 1978. Vale lembrar que a Unesco considera ainda a mina de sal de Bochnia, também nas proximidades, em conjunto com Wieliczka, como patrimônio mundial cultural, sendo que aqui falaremos tão somente da mais conhecida, Wieliczka.


Nossa Senhora, rogai por nós. Capela de Santa Cunegunda (Kinga) em Wieliczka.

Uma belíssima capela de Wieliczka.

A mina de sal de Wieliczka existe desde o século XIII. São, portanto, mais de setecentos anos de história deste fabuloso sítio.

Existe uma lenda que indica que Santa Cunegunda da Polônia (ou  Kinga, em polaco) teria descoberto essa mina. Cunegunda, filha de rei húngaro e prometida ao rei polonês, é a santa padroeira da Polônia, cuja data da morte, 24 de julho, é celebrada anualmente como seu dia. Tudo começou com um dote de ouro e outras pedras preciosas de seu pai húngaro, que a santa recusou. Em vez de ouro, Cunegunda pediu sal, sendo que seu pai então lhe deu uma mina de sal na Transilvânia. Cunegunda, satisfeita com o presente, jogou seu anel de princesa naquela mina. Anos mais tarde, estava nas proximidades de Cracóvia quando pediu aos súditos que cavassem um buraco profundo - e esse buraco, o qual continha o anel que ela havia jogado na outra mina, deu origem à famosa mina de sal de Wieliczka.

Lenda à parte, a mina de sal é uma das visitas mais incríveis do mundo. Dificilmente uma pessoa verá um local tão espetacular e diferenciado na vida. É, indiscutivelmente, uma esplêndida visita.  Para se ter uma ideia das dimensões, são 300 quilômetros subterrâneos de galerias e câmaras, sendo que apenas dois quilômetros destes são abertos à visitação. A profundidade chega a 135 metros abaixo do nível do solo, o que demanda a descida de cerca de quatrocentos degraus (a descida não é difícil, é um nível baixo para médio de dificuldade). A temperatura nas profundezas é de 13 a 14 graus centígrados, mas não faz frio, embora vente um pouco (curiosamente).

Visitantes descendo os inúmeros degraus de Wieliczka.
A visita à mina dura cerca de 2 horas. São visitadas câmaras subterrâneas antigas, lago salgado, máquinas usadas nas minas, prédios e lugares subterrâneos. Mas o mais impressionante local é a Capela de Santa Cunegunda, incrivelmente bela - são altares, candelabros e esculturas representativas da religião católica simplesmente deslumbrantes, tudo feito de sal.

A Magnífica Capela de Santa Cunegunda (Kinga), vista do alto.

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Virgem Maria e Jesus, feitos de sal. Capela de Santa Cunegunda.

Estupendas representações católicas. Capela de Santa Cunegunda.
Maria, José, Jesus e o burrinho. Capela de Santa Cunegunda.

João Paulo II, o santo polonês. Capela de Santa Cunegunda.

O lago salgado de Wieliczka.

Outras figuras esculpidas no sal podem ser vistas em várias câmaras, sendo relevante destacar que a câmara com maior teto é a Stazsic, com 36 metros. O polonês Nicolau Copérnico, da teoria heliocentrista, é homenageado em uma bonita escultura de sal.

Nicolau Copérnico, um grande polonês, é homenageado em Wieliczka.

Vale lembrar que os nazistas também chegaram a dominar a mina, tentando estabelecer uma fábrica de aviões nos subterrâneos. Outra curiosidade: há também em Wieliczka um local subterrâneo onde doenças respiratórias eram tratadas. A mina abriga ainda, em seu imenso subterrâneo, shows e eventos.

Mais uma belíssima obra de sal em Wieliczka.

Wieliczka, por todos os motivos expostos, é uma visita imperdível para quem vai à Polônia e, mais precisamente, está nas proximidades de Cracóvia.

Serviço

Endereço eletrônico: https://www.wieliczka-saltmine.com/

Horários: de 1 de abril a 31 de outubro, das 7 e 30 da manhã às 7 e 30 da noite;  de 2 de novembro a 31 de março, das oito da manhã às cinco da tarde.  Não abre em 1 de janeiro, 1 de novembro, 24 e 25 de dezembro. Sábado e domingo de Páscoa até as três e meia da tarde. 31 de dezembro das oito da manhã às quatro da tarde. 

Preços:  Variam conforme o fato do visitante ser polonês ou estrangeiro; há preços para famílias.
https://www.wieliczka-saltmine.com/visiting/visitor-s-guide/check-prices/check-prices-tourist-route 

Como chegar: A mina está a 10 Km do centro de Cracóvia. Pode-se ir de trem, a partir da Estação de trem de Cracóvia (Dworzec Główny) para a estação  Wieliczka Rynek Kopalnia; ou de ônibus (é o 304), que parte do Shopping Galeria Krakowska (rua Kurniki)., descendo na parada Wieliczka Kopalnia Soli. Zone I (Strefa I).

terça-feira, 3 de outubro de 2017

AUSCHWITZ-BIRKENAU: MUSEU E MEMORIAL DO HORROR

O primeiro de setembro de 1939, data em que a Alemanha nazista invadiu a Polônia, ficou marcado na história mundial como o início da Segunda Grande Guerra Mundial, conflito que durou até 1945. O fim da guerra trouxe à tona o maior de seus horrores: o chamado "Holocausto", ou seja, o extermínio em massa de judeus e de outras minorias (ciganos, polacos, eslavos, homossexuais, testemunhas de Jeová, entre outras), considerados "inimigos" do Reich, tudo fruto de uma mente doentia do principal líder nazista, Adolf Hitler, e de seus principais asseclas (entre eles, Heinrich Himmler, líder da SS e principal nome ligado aos campos), que negavam tudo o que não fosse alemão e propugnavam pela superioridade da raça ariana.  E Auschwitz é o símbolo maior desse triste período da humanidade, que hoje transformou-se em um museu e memorial e é "Patrimônio Mundial Cultural" reconhecido pela UNESCO desde 1979.

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Auschwitz I.


Auschwitz I.
Os campos de concentração de Hitler, chamados KL (Konzentrationslager), foram criados em 1933, com o intuito inicial de prender pessoas contrárias ao regime nazista, notadamente adversários políticos, mas desde esse ano em que Adolf Hitler transformou-se em líder do Terceiro Reich ("Fuher"), já se prendiam judeus. Os campos eram instituições estatais administradas diretamente pelo Serviço Central de Economia e Administração da SS (WVHA). A deportação e o genocídio eram de responsabilidade de outro órgão, o Serviço Central de Segurança do Reich (RSHA). A SS ("Schtzstaffel") era, inicialmente, a guarda pessoal de Hitler, transformada depois em  unidade militar e policial de elite da Alemanha Nazista, cujo auge foi a partir de 1939.

Deportação dos Judeus a partir do Gueto de Lodz (Polônia), 1943.
Auschwitz, o símbolo do horror do Holocausto, foi criado em meados de 1940, na cidade polaca de Oswiecim, rebatizada para Auschwitz pelos nazistas que a dominavam. Foi o maior de todos os campos de concentração e extermínio. O motivo principal da criação do famoso campo foi a constatação da superlotação das prisões, tendo em vista o incremento das detenções de cidadãos polacos. O campo de concentração (que tinha como objetivo declarado os trabalhos forçados, em regime de escravidão) se transformou em campo de extermínio (ou seja, objetivando a morte de judeus e minorias) a partir de 1942, muito embora sua história se desenrole entre 14 de junho de 1940 (data em que 728  polacos foram enviados para o campo) e 27 de janeiro de 1945 (data em que 7.500 prisioneiros são libertados pelo exército vermelho soviético).

A entrada de Auschwitz, com o lema "O Trabalho Liberta" ("Arbeit Macht Frei").
O sol atrapalhou a foto na entrada de Auschwitz.

O complexo Auschwitz contava com três campos, a saber, Auschwitz I, Auschwitz II - Birkenau, distante três quilômetros do campo I e Auschwitz III - Monowitz (Buna), distante 6 quilômetros do Campo principal. Contava ainda o complexo com 47 subcampos.  Hoje, o Memorial e Museu Auschwitz - Birkenau, visitado anualmente por mais de 2 milhões de turistas por ano, é constituído por dois desses campos: Auschwitz I e Auschwitz II - Birkenau.

A classificação dos prisioneiros em categorias  do KL Auschwitz era a seguinte: Judeus (a partir de 1942 era o grupo mais numeroso, sendo registrados 200.000 deles); Prisioneiros Políticos (a maioria polacos, presos em operações de repressão ou por participar da resistência); Prisioneiros Antissociais (nessa categoria entravam os ciganos, sendo que foram registrados 21 mil); Prisioneiros de Guerra Soviéticos (12 mil);  Prisioneiros Educativos (11 mil; eram os que infringiam regras de trabalho); Prisioneiros da Polícia (somente polacos, diferenciavam-se dos prisioneiros do campo, mas ficavam aguardando a sua sentença no campo; geralmente eram condenados à pena de morte por fuzilamento); Prisioneiros Criminais (de nacionalidade alemã, ajudavam no trabalho de manter o regime do campo); Testemunhas de Jeová (menor grupo, cerca de 100 pessoas; princípios religiosos eram considerados inadequados pelo regime nazista); Homossexuais (dezenas, principalmente de nacionalidade alemã).

Auschwitz I.

Alguns dados de Auschwitz no museu local. Em inglês. 
Judeus e crianças no campo de concentração de Auschwitz em foto exposta no museu.

 "Judeus são uma raça que deve ser totalmente exterminada". Hans Frank, nazista.



Vítima do Holocausto de 22 anos. Francês Daniel Barberonsse.

Chaim Kratz, judeu de 22 anos, vítima do Holocausto.

Auschwitz foi o único campo a tatuar suas vítimas.

No tocante às vítimas mortas pelo regime nazista, os números do KL Auschwitz são assustadores. Foram mortos 1 milhão de judeus nesse campo, além de 75 mil polacos, 21 mil ciganos (romanis), 14 mil soviéticos e 15 mil de outras nacionalidades, totalizando cerca de 1, 1 milhão de mortos em razão do extermínio.

Sala onde mulheres se despiam antes de serem executadas no Paredão da Morte.

Local insalubre para experimentos nazistas com as vítimas.

Onde era o muro da morte (execução), destruído, hoje é um muro-memorial.

Falando do Museu e Memorial hoje existente no local, é impossível não se emocionar com a visita. É realmente uma visita dura, que coloca em teste todas as emoções do ser humano. Mais de um milhão de pessoas inocentes, muitas delas crianças, foram mortos nesse local. E crianças foram vítimas de perversos experimentos científicos por médicos nazistas, notadamente com o mais conhecido deles, Joseph Menguele (que, curiosamente, morreu no Brasil).

Vítimas da crueldade humana.




Apesar da destruição feita pelos nazistas, que não queriam deixar rastros, muitos documentos e objetos foram salvos e hoje estão expostos no local. Surgido em julho de 1947, o museu conta com as seguintes coleções: 110 mil sapatos; 3,8 mil maletas, sendo que 2,1 mil com inscrições; mais de 12 mil panelas; cerca de 40 kg de óculos; quase 470 unidades de prótese e aparelhos ortopédicos; 350 unidades de roupas de campo (os "listrados"); 250 mantas judaicas de oração; 40 metros cúbicos de metal derretido dos terrenos do chamado Canadá (armazéns de Birkenau que continham objetos roubados das vítimas); 4,5 mil exemplares de coleção artística (sendo 2 mil realizados por prisioneiros); duas toneladas de cabelos de mulheres deportadas ao campo (essa a mais impressionante).

Utensílios utilizados pelas vítimas do Holocausto.

Sapatinho de criança vítima do massacre, exposto no Museu Auschwitz.

A imensa coleção de calçados de Auschwitz.


Maleta de vítima.

Cabelos cortados das vítimas. Foto do livro "Auschwitz-Birkenau: História e Presente".

Por sua vez o arquivo conta com as seguintes peças: 39 mil negativos de fotografias de prisioneiros recém-chegados; 200 fotografias feitas pela SS de Birkenau, durante a deportação dos judeus da Hungria em 1944; 500 fotos de objetos e do terreno de Auschwitz, realizados pela SS; 2,5 mil fotografias familiares das vítimas e prisioneiros; dezenas de fotografias aéreas do campo, feita por pilotos americanos em 1944; fotos feitas após a libertação do campo; documentos do campo.

O museu conta ainda com muitas placas indicativas, frases históricas dos principais personagens ligados à história da Segunda Guerra, painéis e outros objetos de interesse, como partículas de Zyclon B, o veneno usado nas câmaras de gás.

Zyclon B, o veneno mortal das câmaras de gás.

O campo de Birkenau (Auschwitz II- Birkenau) é também uma visita importante. Ali temos a linha de trem e um vagão original da época do Holocausto, e vários barracões onde ficavam os prisioneiros submetidos a condições degradantes e insalubres, inclusive para higiene pessoal. Há também restos do que era a antiga câmara de gás.

Chegada dos judeus da Hungria em Auschwitz II - Birkenau. 1944.

Preparação para a "seleção" que invariavelmente conduzia à morte. Auschwitz II - Birkenau.

 
Explicação em inglês para o extermínio de Birkenau.


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Birkenau.

Exemplar de um vagão que levava judeus e minorias para a morte.


Os vários barracões da barbaridade nazista, vista do alto.

As latrinas para os presos, para as raras higienes pessoais. Birkenau.

Locais onde ficavam os presos amontoados. Birkenau.


Serviço

Memorial e Museu Auschwitz-Birkenau.

Endereço eletrônico: www.auschwitz.org (em inglês)

E-mail: muzeum@auschwitz.org

Horários: Todos os dias da semana; de 8 às 14 horas em dezembro; de 8 às 15 horas em janeiro e novembro; de 8 às 16 horas em fevereiro; de 8 às 17 horas em março e outubro; de 8 às 18 horas em abril, maio e setembro; e de 8 às 19 horas em junho e agosto. 

Visita (duração): sem guia, 3,5 horas; com guia, a visita geral pode durar 3,5 horas e a visita com especialista pode durar 6 horas. Há ainda visita de 2 dias.

Deslocamento entre campos: pode ser feito até mesmo a pé, sendo curioso observar no trajeto os locais das antigas fábricas, locais de escritórios, locais de trabalho dos prisioneiros e também de morte. Existem estacionamentos para carros nas proximidades dos campos. Existe também ônibus que circula entre os campos I e II. 

Sugestões de leituras: "KL - A História dos Campos de Concentração Nazis", de Nikolaus Wachsmann (vendido em Portugal; edição em inglês no e-reader Kindle da Amazon); "Depois de Auschwitz", de Eva Schloss (disponível no Brasil); "Os Bebês de Auschwitz", de Wendy Holden e Bruno Alexander (disponível no Brasil); "Auschwitz-Birkenau: História e Presente" (vendido em Auschwitz I).