Falar em riqueza cultural engloba muitos fatores: museus com belas coleções de obras de artes (pinturas e esculturas), castelos, palácios, cidades com centro históricos interessantes.
Cracóvia, a mais importante cidade turística da Polônia e símbolo da unidade nacional daquele país, é, certamente, o destino mais rico culturalmente de uma nação que faz parte da
Europa Central, margeia o
Mar Báltico e faz fronteira com
dois gigantes, a Alemanha e a Rússia.
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A Basílica Mariana domina a paisagem da praça central de Cracóvia. |
Antes de mais nada, é bom que se diga: Cracóvia é uma das mais belas cidades do mundo. Isso se deve ao fato de que alguns dos mais brilhantes artistas e arquitetos trabalharam na cidade e pela cidade, a exemplo de
Veit Stoss (1447-1533, escultor alemão que trabalhou na Basílica Mariana de Cracóvia),
Bartolomeo Berreci (1480-1537, arquiteto italiano, construiu a Capela de Segismundo no Wawel , considerada o mais bonito exemplar da arquitetura renascentista italiana fora da Itália),
Giovanni Maria Padovano (1493-1554, escultor italiano, fez o "Túmulo do Arcebispo Piotr Gamrat" da Catedral do Wawel) e
Tylman Van Gameren (1632-1706, arquiteto holandês que projetou a Igreja de Santana em Cracóvia).
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As carruagens enfeitadas fazem parte do dia a dia de Cracóvia. |
E toda essa beleza que é inerente à Cracóvia foi preservada mesmo durante a Segunda Grande Guerra, muito embora tenha sido palco de mortes de judeus (havia um campo de concentração na cidade) e de furto de valiosas peças de seu acervo artístico pelos nazistas. Mas a história da bela urbe polonesa começa bem antes disso.
A par de lembrar os primeiros assentamentos na região de Cracóvia, que datam de duzentos mil anos antes de Cristo, a história da cidade polonesa começou, efetivamente, no século 8 depois de Cristo, com a elevação à capital do estado de Vistula. Em
1038 Cracóvia passou a ser a capital da Polônia, título que permaneceu até
1609, quando o Rei Segismundo III transferiu a sede para Varsóvia. Após, no século XVIII, a cidade foi invadida por suecos e russos, até se tornar parte da Áustria no final do mesmo século. No século XIX, a cidade foi anexada pelo Duque de Varsóvia (1809), tornou-se reino independente em 1815 e foi novamente anexada pela Áustria entre 1846 e 1876, ano este que ganhou novamente autonomia. No século XX destaca-se na história de Cracóvia a construção de um distrito chamado
Nowa Huta, durante os anos de chumbo do comunismo pós Segunda Grande Guerra, e a elevação do
centro histórico da cidade como patrimônio mundial da Unesco em 1978.
O nome
Cracóvia (Krakow em polaco;
Krakau, em alemão) advém do príncipe
Krak, o primeiro governante da Polônia. Há uma lenda associada a esse príncipe e que hoje se transformou no símbolo maior da cidade polonesa: o
Dragão de Wawel. Segundo essa lenda polonesa, algo muito estranho estava acontecendo ali em Cracóvia: carneiros e ovelhas sumiam misteriosamente. Um belo dia, um jovem descobriu que, perto do rio Vistula e da Colina Wawel, havia um enorme dragão que se alimentava dos animais. A partir dessa constatação, o princípe Krak reuniu muitos amigos e conselheiros para matar o grande dragão, sem obter sucesso. Prometeu, como recompensa, uma princesa, de nome Wanda. Então, um sapateiro, de nome Skuba, apresentou a solução: matou um carneiro gordo, encheu-o de enxofre e alcatrão e deixou lá na caverna para o dragão comer. Ato seguinte, o dragão encheu sua barriga com o carneiro e, ao beber água no rio(a sede era imensa!), explodiu, espalhando seu pedaços por toda a cidade. Skuba, o herói que derrotou o dragão, casou-se com Wanda e a cidade se viu livre de seu algoz. Uma história muito interessante e divertida.
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O dragão é vendido como souvenir numa pedra em Cracóvia. |
Cracóvia tem como destaques o
Castelo de Wawel, o seu
Centro Histórico (Stare Miasto), a Praça do Mercado (Rynek Growny) e a belíssima Basílica Mariana (St. Mary´s).
O
Wawel é, muito além de um dos maiores símbolos de Cracóvia, um símbolo de toda a Polônia. Um dos castelos mais ricos do mundo em termos artísticos, indiscutivelmente. Ali, na bela Catedral, foram coroados e enterrados muitos reis poloneses.
O Castelo Real e a fabulosa Catedral são os dois lugares mais importantes do Wawel.
A
Catedral Real do Wawel foi, como já dito anteriormente, o local de coroação e sepultamento dos reis poloneses. Dedicada aos santos
Estanislau e Venceslau, a construção da imponente catedral iniciou-se em 1020 , em estilo românico, sendo posteriormente reformada (1364), adotando-se o estilo gótico, incorporando ainda aspectos barrocos e renascentistas. A
Capela de Estanislau tem cúpula dourada de ouro maciço. Dentro da nave principal repousa o santo Estanislau (1030-1079), que foi bispo de Cracóvia e muito influente politicamente. Hoje ele é o "padroeiro" da Polônia, um mártir da igreja que foi canonizado em 1253. Curiosidade: foi na cripta da Catedral de Wawel que Carol Woitjla, João Paulo II, celebrou sua primeira missa. Hoje se vê uma estátua do santo católico que ajudou a derrubar o comunismo.
Visita-se ainda no Wawel o
pátio do castelo, local amplo que dá uma visão do interior do prédio. Ali
Hans Frank (1900-1946), o nazista, chefiou o Governo Geral da Polônia dominada por Hitler entre 1939 e 1945. Frank cometeu inúmeras atrocidades, sendo conhecido pela tentativa de eliminar a elite intelectual polonesa. Gostava de jogar xadrez, organizando campeonatos no Wawel. Após a prisão, converteu-se à fé católica romana. Julgado pelo Tribunal de Nuremberg, foi enforcado em 1946, dizendo antes do ato final: "
agradeço pelo tratamento que tive durante o cativeiro e peço a Deus que me receba em sua piedade".
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Wawel. |
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Toda a beleza cênica da maior atração de Cracóvia. |
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A Catedral do Wawel. A Capela de Segismundo tem a cúpula dourada. |
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O belíssimo pátio do Wawel. Interior do castelo. |
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Estátua de João Paulo II, que celebrou sua primeira missa na catedral do Wawel. |
A
Praça do Mercado, como toda praça deste tipo na Europa, é marcada por uma profusão de prédios antigos, formando um quadrado. Interessante notar que, ao centro, encontra-se o
Cloth Hall, que hoje abriga um mercado de produtos típicos poloneses, principalmente artesanato. Não há comida.
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Cloath Hall. Mercado de artesanato local. |
A praça abriga também um grande cartão postal da cidade, a
Igreja de Santa Maria ou Basílica Marina (Kosciol Mariacki). A construção dessa monumental igreja começou em 1355, tendo como objetivo rivalizar com a Catedral do Wawel. Nela, algumas obras de arte se destacam, como a escultura "Crucifixo", de Veit Stoss, e o altar, também de Veit Stoss. Há ainda um cálice feito pelo artista Giovanni Maria Padovano e um pórtico barroco de Francesco Placidi.
Dois fatos muito curiosos referentes a igreja merecem destaque:
a diferença de altura entre as torres e o
toque de clarim ouvido a cada hora. Quanto à diferença de altura, uma lenda polonesa indica que dois irmãos foram incumbidos de construí-las, sendo que um deles, que havia erguido a torre norte, matou a facadas o caçula para impedir que o outro o igualasse na torre sul.
Quanto ao
toque de clarim, é realizado na maior torre da Basílica de Santa Maria (chamada de "Torre da Guarda") a cada hora. Para se ter uma ideia da importância do toque, o referente ao meio-dia é transmitido ao vivo para toda a Polônia. O toque, chamado
Hejnal, é bastante representativo para o país, sendo um toque incompleto que lembra um corneteiro medieval que salvou Cracóvia em 1240 de uma invasão de cavalaria tártara que se aproximava de surpresa. O corneteiro tocou sem parar até que uma flecha o matou. Conseguiu o seu intento - avisar os cracovianos - que, com o gesto, derrotaram os invasores. Tal gesto é considerado um símbolo de sacrifício pela pátria e, como já se disse anteriormente, até hoje é reverenciado.
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A Basílica Mariana . |
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A fabulosa Basílica Mariana por dentro. Cracóvia. |
Outro ponto bastante importante de Cracóvia é o "
Collegium Maius" (nome em Latim para "Colégio Maior"). Nesse prédio foi instalada no ano de 1400 a Academia de Cracóvia, criada em 1364 e que depois ficou conhecida como "
Universidade Jagelônica" em homenagem ao benfeitor, o rei Ladislau II Jagelão. É a segunda mais antiga da Europa Central, apenas superada pela Universidade Carolina de Praga, que data de 1348. O prédio foi restaurado no século XIX. Na Universidade Jagelônica estudou Nicolau Copérnico (1473-1543), astrônomo, cientista e matemático polonês que desenvolveu a teoria heliocêntrica (o sol como centro do universo; até então acreditava-se na teoria geocêntrica, ou seja, a Terra como centro do universo).
Há ainda um
bairro judeu bastante interessante, cuja ocupação remonta ao século XIV. Há ali um cemitério judeu e uma sinagoga. Curiosidade: há por ali também a casa de Helena Rubinstein, a famosa fabricante de cosméticos. É possível também comer nos "kosher", restaurantes típicos em que há apresentações de músicas judaicas. É, também , um bairro famoso por vendas de antiguidades, objetos de arte e livros raros.
Curiosidade relacionada aos judeus de Cracóvia:
Oskar Schindler (1908-1974), o benfeitor dos judeus, morou em Cracóvia, oportunidade em que salvou 1.200 judeus da morte, oferecendo-lhes trabalho em suas fábricas de panelas e projéteis. O lugar, onde era o antigo Gueto de Cracóvia, fica do outro lado do rio (bairro Podgórze), oposto ao do bairro judeu. Ainda hoje é possível visitar a fábrica.
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Bairro Judeu. |
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Bairro Judeu. |
Interessante que os tempos do comunismo, embora associados a muito sofrimento do povo polonês, são lembrados em Cracóvia. Observem, na foto abaixo, o carro que era utilizado nos tempos em que a Polônia era um "satélite" da União Soviética Stalinista e que hoje serve para passeios turísticos. É fácil notar que tudo era "quadrado", sejam carros, prédios, nas pouco criativas criações comunistas.
De Cracóvia para: Auschwitz-Birkenau;
Wieliczka;
Wadowice (terra natal de João Paulo II).
Tour para conhecer a vida de João Paulo II (dicas), por Ivan Godoy (jornalista).
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É possível fazer um tour pelos lugares relacionados com a vida do Papa. Primeiramente, o visitante é levado à sua cidade natal, Wadowice, a 50 km de Cracóvia. Lá visita a casa onde ele nasceu, na rua Koscielna 7, hoje museu. Dá para ver que era uma residência confortável, de classe média. Hoje mostra fotos da infância até o Pontificado, e documentos que retratam a brilhante trajetória de Karol Wojtyla. O seguinte passo é entrar na Basílica Mniejsza, onde ele recebeu o batismo e a primeira comunhão. Construída no século XIV a igreja teve consagrada, em 2006, uma capela dedicada a João Paulo II. Depois o passeio continua em Kalwaria Zebrzydowska, um lugar de peregrinação muito frequentado por Wojtyla, que possui 40 capelas construídas no século XVII sobre as colinas. O local recebe desde então milhares de peregrinos, especialmente na Semana Santa, quando são realizadas encenações da Paixão de Cristo. A excursão termina em Cracóvia, nos estabelecimentos de ensino frequentados na juventude pelo Papa e na Catedral de Wawel, onde ele foi consagrado bispo, além de ter rezado sua primeira missa como padre".
(GODOY, Ivan. "Polônia". São Paulo: Alfa-Omega, 2011).