O Panamá, país localizado na América Central (porção continental, istmo), entre Colômbia e Costa Rica, tem 10 (dez) províncias e 03 (três) comarcas indígenas. A comarca Guna Yala (pronuncia-se "Kuna Yala"), localizada no lado do Oceano Atlântico, da qual faz parte o paradisíaco arquipélago de San Blas, do qual falaremos a seguir, é uma das três comarcas indígenas (as outras duas são a Emberá, bastante turística e a Ngabe-Buglé, a mais populosa).
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A comarca Guna Yala no Panamá em vermelho. Lado Atlântico. Foto: Shadowfox. |
Inicialmente, vale ressaltar que a etnia indígena
Guna (Kuna) domina o fabuloso conjunto de ilhas conhecido como
San Blas (estamos adotando essa nomenclatura, embora esteja já em desuso, por
lei editada em 1998).
O arquipélago de San Blas é constituído de
365 pequenas ilhas,
49 delas habitadas, além de uma estreita
faixa continental do território panamenho (conforme mapa acima).
San Blas é um verdadeiro paraíso na terra, com ilhas pequenas ( com proximidade uma das outras), praias com boas porções de areia e o mar na tonalidade "azul-caribe" (além de outras cores, que contrastam com essa). Ali, os índios cobram dos visitantes taxas de visitação das ilhas, dirigem os pequenos barcos (dizem que são lanchas!), controlam os horários dos turistas, alugam cabanas (resorts e hotéis de grandes cadeias não existem por ali - aliás, nem há estrutura para isso). Enfim, os indígenas fazem de tudo um pouco, vivendo de
turismo, artesanato, agricultura e pesca.
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Uma paradisíaca praia na Isla Perro em San Blas. Águas mornas e belas. |
Importante trazer aqui também um pouco da curiosa e instigante história dessa comunidade indígena e seus aspectos culturais mais peculiares.
Sabe-se que os
Guna, enquanto comunidade organizada, surgiram a partir da criação da
Comarca Tulenaga, por
lei colombiana de junho de 1870. Tal comarca se estendia muito além da atual comarca Guna Yala,
abrangendo desde a atual Colón, no Panamá, até o Golfo de Urabá, na Colômbia. Com a intensa exploração dos índios e sua terra por outros povos, ocorreu o maior e mais amplo movimentos dos Guna: a
Revolução Guna, liderada por
Nele Kantule em 1925, que resultou na efêmera República de Tula (durou apenas alguns dias). Curiosamente, os índios adotaram uma bandeira com a suástica como símbolo, abandonada no decorrer da Segunda Guerra, justamente pela apropriação do símbolo pelos nazistas. Conta-se que a suástica representava o polvo que, segundo a tradição Guna, havia criado o mundo. As pontas da suástica eram os tentáculos desse povo, cada uma delas representando um ponto cardeal, que seriam o arco-íris, o sol, a lua e as estrelas.
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A curiosa bandeira Guna da Revolução. Foto: s/v Moonrise. CC BY-SA 3.0 |
A atual bandeira Guna, utilizada inclusive nas embarcações, é a seguinte:
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Bandeira de Guna Yala atual, adotada em 2010. Foto: Shadowfox. |
Outras curiosidades a se destacar: um censo de 1990 indicou uma população de 40.000 gunas, hoje a estimativa gira em torno de 54 mil habitantes; a capital é El Porvenir; os Gunas seguem uma religião naturalista, evocando a "Mãe Terra" (similar aos incas peruanos), chamada "Paba y Nana"; os Guna são monogâmicos e os pais escolhem a esposa para os filhos; o ritual do matrimônio dura de três a cinco dias, e o noivo é levado à casa da noiva e submetido a várias provas para saber se é realmente o par ideal da filha; após o casamento, o novo marido passa a viver debaixo da tutela do sogro.
Voltando ao passeio, temos que, quando se chega no terminal, a sensação é de um pouco de medo. Um local inóspito, com mar agitado e pequenos barcos. Barcos que os índios insistem em chamar de "lanchas". Mas, enfim, turismo é isso: os fins (conhecer um paraíso como San Blas) justificam o meio (arriscar-se nos pequenos barcos).
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Aqui se pegam os barquitos. |
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Piscinas naturais cheias de estrelas do mar compõem o passeio a San Blas. |
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Estrela do mar em San Blas. |
As ilhas, todas parecidíssimas, com muitos coqueiros e areia branca, valem o sacrifício. Algumas fotos ilustram a beleza singular do lugar, única até mesmo em termos caribenhos:
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A beleza do local. |
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Paraíso. |
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Bela ilha tropical. |
Uma advertência a quem for visitar as ilhas: o passeio é
difícil para quem tem dificuldade de locomoção. O sobe e desce dos barcos é custoso, já que sempre o passageiro tem que pular e subir, muitas vezes na água do mar.
A melhor época para visitação vai de dezembro a abril. Para se chegar até lá, a partir da Cidade do Panamá, são duas horas e meia, sendo os últimos quarenta minutos em
estrada sinuosa que desafia os estômagos dos visitantes (muitos enjoam com as viradas e o calor). É importante lembrar também que o
passeio rumo às ilhas, mar adentro, demora cerca de 30 (trinta) minutos, com muito sobe e desce das lanchas nas águas, dada as ondas que surgem no Atlântico.
Por fim, vale destacar aqui a marca registrada dos Gunas (Kunas) Yala: o artesanato chamado "
molas". que é, basicamente, panos de cores vivas, confeccionadas artesanalmente pelas índias. Neles, a criadora sobrepõe panos uns sobre os outros, desenhando figuras primitivas de objetos naturais, mitológicos ou geométricos. Pode servir como adorno no próprio vestuário, ou ainda como almofada, ou mesmo pano de mesa. Um trabalho realmente bonito e diferente. Vale conferir.
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Um belo trabalho de molas. |
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Uma índia Kuna e, atrás, os trabalhos denominados "molas", comuns no Panamá. | |