segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

MONTEVIDÉU - HISTÓRIA, CENTRO E CIUDAD VIEJA

A qualidade de vida, no sentido do bem viver em ambiente urbano, é uma busca incessante de todo o ser humano. E Montevidéu ("Montevideo" em espanhol),  a capital uruguaia, é a cidade com mais de um milhão de habitantes que mais se aproxima disso, com imensas áreas verdes, um trânsito tranquilo mesmo nas horas do "rush" e um baixíssimo índice de violência, que permite aos moradores e aos visitantes andarem tranquilamente por suas ruas (com raríssimas exceções de lugares a serem evitados). 

Montevidéu foi fundada em 1726 pelo Capitão e Governador de Buenos Aires  Bruno Maurício de Zabala, herói justamente homenageado em uma das praças mais bonitas e agradáveis da cidade, a "Praça Zabala".


Monumento em homenagem a Zabala na praça que leva o seu nome.

Aspecto parcial da Praça Zabala, uma das mais bonitas da capital oriental.

A cidade, anteriormente chamada de "San Felipe y Santiago de Montevideo", foi originariamente projetada como base militar do império espanhol no Rio da Prata. O objetivo era evitar que os portugueses pudessem avançar para a chamada "banda oriental" do rio. Curiosamente, o termo "oriental", que quer dizer "a leste do Rio da Prata",  é até hoje usado para designar o país, cujo nome oficial é "República Oriental do Uruguay". 

Como todos os nomes de cidade, Montevidéu tem também suas lendas. A mais famosa indica que um marinheiro português, que viajava junto com Fernando de Magallanes, ao avistar o cerro da cidade disse "Monte Vide Eu", que seria, em tradução livre, "eu vi um monte". A segunda teoria para a origem do nome aponta para a forma como os espanhóis anotaram a situação geográfica do lugar nos respectivos mapas: "monte vi de este a oeste". E, a terceira teoria, por fim, explica que Magallanes (aquele da primeira teoria) numerou os montes que foram avistando de leste a oeste, sendo Montevideo o sexto, ou seja, "Monte VI de e a o" ("o sexto monte de leste -e a oeste -o").

Discussões sobre o nome a parte (cada uma das três teorias possui lógica própria), Montevidéu hoje é uma aprazível e sossegada cidade uruguaia, embora conte com mais de um milhão e trezentos mil habitantes (quase um terço do total da população uruguaia). As atrações espalham-se por seis distritos, principalmente: Ciudad Vieja, Centro, El Prado, Palermo, Pocitos/Punta Carretas e Carrasco.

Centro e Ciudad Vieja se complementam. A Ciudadela é o marco que divide as duas regiões da cidade. De um lado, a Plaza Independência e a Avenida 18 de Julio (a principal da cidade, com muito comércio e várias praças);  do outro, a  Sarandi, que é a principal rua da Ciudad Vieja, transformada em calçadão.

O arco da Ciudadela, em frente à Praça Independência.

O cartão-postal mais conhecido da cidade é o "Palácio Salvo", localizado na praça mais bonita da cidade, a "Plaza Independência". Nessa praça, merecem destaque (e visita), além do Salvo, o "Museu do Governo", instalado em um antigo palácio presidencial, e os restos mortais do general José Artigas (libertador do Uruguai e um dos Libertadores da América). Os restos ficam exatamente embaixo da magnífica estátua do general no centro da Praça Independência. Praça que é, enfim,  o coração de Montevidéu, de onde sai a principal avenida da cidade, a "18 de Julio" e também a porta de entrada para a "Ciudad Vieja" (Cidade Velha, que congrega o centro histórico e o Mercado do Porto), pelo calçadão da Sarandi (paseo peatonal, em espanhol).

Uma dica preciosa é conhecer, na Praça da Independência, o "Museu Casa de Governo" (ou "Museu dos Presidentes", ou ainda, "Palácio Estevez"). A entrada é gratuita e pode se conhecer toda a história uruguaia, contada nos mínimos detalhes, incluindo apetrechos utilizados pelos ex-presidentes. É um belo prédio e fica ao lado da praça. 


Plaza Independência, o coração de Montevidéu..


O Palácio Salvo, ícone urbano da cidade e prédio mais alto das Américas quando da fundação.

A estátua do libertador Artigas e o seu mausoléu.
Detalhe da bela estátua de José Artigas, o libertador uruguaio.
Perto da Praça Independência, já na "Ciudad Vieja", o Teatro Solis também é um ícone local. Fundado em 1856, tem visitas guiadas, sendo gratuita às quartas, no horário das onze da manhã. Nesse horário gratuito, recomenda-se chegar com pelo menos vinte minutos de antecedência, caso contrário se esgotarão os ingressos. Vale a pena conhecer a história do belíssimo cartão-postal.




Como já dissemos anteriormente, a "Calle Sarandi" concentra, juntamente com a 18 de Julio, o comércio local e também é ponto de partida para se chegar à região do porto de Montevidéu. A rua tem livrarias, comércio de rua, lojas de departamentos, correio (seção filatélica) e bancos. É o coração comercial mas, também, o elo que, juntamente com a rua Perez Castellano, une o Porto de Montevidéu  à Praça da Independência. Na Sarandi, vale destacar ainda, temos museus, sendo o mais completo e interessante o "Torres Garcia" (Sarandi, 683, aberto todos os dias, exceto aos domingos), dedicado ao maior pintor uruguaio, Joaquin Torres Garcia (1874/1949). É uma visita que vale a pena, já que o pintor criou um estilo próprio, o "Universalismo Construtivo", pintando ainda dezenas de personalidades e alguns aspectos de sua vida em Nova Iorque e Barcelona. Outro museu na mesma rua é o "Museu Gurvich" (Sarandi, 522, aberto todos os dias, exceto domingo), dedicado a outro pintor uruguaio, José Gurvich (1927-1974).

Museu Torres Garcia, em Montevidéu.
Obra de Torres Garcia.

Antes de se chegar ao Mercado del Puerto, caminhando pela Sarandi, encontramos a "Praça da Constituição" e a "Catedral de Montevidéu".  A Praça é uma das mais pitorescas e interessantes da capital uruguaia, embora não seja a mais bonita; é comum ter feiras pequenas por ali. Já a Catedral é bonita, embora não surpreenda em nenhum aspecto, seja no exterior, seja no interior. Fundada em 1804, ali descansam os restos mortais de importantes líderes uruguaios, como Lavalleja e Fructuoso Rivera (primeiro Presidente). Na mesma rua, à direita de quem está em frente à igreja, encontra-se o tradicional "Café Brasilero" (Ituzaingó, 1447), o mais antigo de Montevidéu, fundado em 1877 - serve café, refeições leves, sobremesas finas e almoços executivos.

A Catedral de Montevidéu.


Praça da Constituição (ou da Matriz).

Na região da Catedral, e antes de seguir rumo até o Mercado do Porto, a dica é desviar um pouco, ir na paralela da Sarandi, a Rincon, e visitar o Museu Andes 1972 (Rincon, entre Mitre e Gomez), que conta a história do trágico acidente aéreo envolvendo um time de rugby uruguaio nos Andes, que causou a morte de 29 pessoas e que trouxe novamente a vida 16 outros ("os sobreviventes dos Andes"). Há um relato desse museu aqui no blog.

Continuando, destaca-se agora a atração mais concorrida de Montevidéu, principalmente nos dias em que chegam cruzeiros vindos do exterior: o interessantíssimo "Mercado del Puerto". Nesse mercado, basicamente encontramos quatro ou cinco lojas de souvenirs e o restante é restaurante. Desses, o mais apreciado e concorrido é o "El Palenque", que tem o tradicional "Ojo de Bife" como carro-chefe. A experiência de se ver os cortes de carne e a 'parrilada" (uma mistura de diversos tipos de cortes e carnes, alguns bem estranhos) sendo assada é fantástica e única, muito embora ficar exatamente em frente não é uma boa pedida, já que fica muito quente... Frise-se: o Mercado del Puerto é mais um ponto gastronômico; para verduras, frutas, legumes, venda de carnes, etc, existe o "Mercado Agrícola", em outro ponto da cidade.

O preparo da carne no El Palenque do Mercado do Porto.
Entrada do Mercado do Porto.

Praça em frente ao Mercado do Porto.

Perto do Mercado del Puerto, o museu mais importante é o "Museu do Carnaval" (Maciel y Rambla 25 de agosto; aberto de segunda à sábado das 12 às 18 horas). O carnaval uruguaio é diferente do brasileiro e bem curioso. Demora mais tempo - cerca de quarenta dias - e tem na murga a sua marca mais famosa. Murgas são encenações teatrais geralmente de temas atuais, feitas com muito humor. As roupas são inspiradas no carnaval veneziano. É disso que trata o museu do Carnaval que, embora pequeno, vale como curiosidade nesse aspecto cultural específico. 

 Roupa usada no carnaval uruguaio.
Ainda perto do Mercado del Puerto e do Porto de Montevidéu (onde chegam os muitos cruzeiros que visitam a cidade), interessante observar um belíssimo prédio - o "Edifício de la Dirección Nacional de Aduanas", de estilo art decó, finalizado em 1923.


Edifício da Aduana em Montevidéu.
E não poderíamos terminar uma postagem sobre o Centro e o Centro Histórico de Montevidéu sem falar em outro ícone local: o bar "Fun Fun", que já esteve em quatro endereços na cidade e atualmente encontra-se no centro, mais precisamente na Calle Soriano 922 (o endereço anterior era na rua Ciudadela).  Inaugurado em 1895, é um dos bares mais antigos das Américas. Funciona assim, em quatro etapas: geralmente tem shows, a partir de dez e meia da noite, de tango (dança de salão), música regional uruguaia e brasileira (com uma dupla de sanfona e viola) e um show de candombe, ritmo uruguaio, que também às vezes descamba para músicas brasileiras. O último show ocorre depois da meia-noite, o que pode ser cansativo. Destaque para um cantor de voz firme, estilo Julio Iglesias, no segundo show - bastante carismático. Outro destaque da casa é a "uvita", um vinho com cara de conhaque, que é um muito gostoso - a casa vende, inclusive, um litro dessa bebida.

Show de tango no Fun Fun.
A sanfona e a viola no Fun Fun.


O cantor estilo Julio Iglesias do Fun Fun.



O conjunto que arrisca o candombe, o ritmo tipicamente uruguaio. 
 
Vale ainda destacar outras atrações da Ciudad Vieja e do Centro. Vamos a elas:

Ciudad Vieja: Igreja de São Francisco de Assis (Solis, 1469 esq. Cerrito; construção iniciada em 1863 e finalizada em 1895); Casa do General Fructuoso Rivera (Rincon, 437; funciona como parte do Museu Histórico Nacional e conta a história uruguaia); Feira da Praça da Matriz (todos os sábados, manhã e tarde);  Cabildo e Reales Cárceles (Juan Carlos Gomez, 1368; edifício histórico); Livraria Linari y Risso (Juan Carlos Gomez, 1435;  uma das mais emblemáticas livrarias da cidade).

Centro: Destaque para a "Feira Tristan Narvaja", na rua de mesmo nome, realizada aos domingos. Há muito coisa interessante por lá, é fato, mas há também outras tantas que não passam de bugigangas sem nenhum valor. Quanto mais longe você ficar da avenida 18 de Julio, mais vai perceber a queda de qualidade da feira. Há muitos objetos que as pessoas pegam das suas respectivas casas e, depois de muito usadas, levam para a feira. Outros tantos objetos também parecem ter sido fruto de furtos. Enfim, não acho que seja um programa imperdível, é apenas uma feira bastante comum, inferior, em termos de qualidade, a muitas que conhecemos (Belo Horizonte, por exemplo, tem uma feira bem melhor aos domingos em termos qualitativos). O auge da feira é entre as 9 horas da manhã e uma da tarde.

Uma última dica: especialmente no Centro e na Ciudad Vieja evitar visitas noturnas. Esses locais ficam muito vazios depois do horário comercial.  Como a grande maioria dos centros das cidades grandes pelo mundo, o de Montevidéu também oferece perigos. Prefira sempre visitar tanto o centro quanto o centro histórico (Ciudad Vieja) durante o dia. 

Um panorama completo da região turística mais famosa de Montevidéu. Apreciem sem moderação!