A Índia é, sob o ponto de vista sociológico, um país contraditório e complexo.
Contraditório, por conta de suas imensas desigualdades e misérias em confronto, e caminhando lado a lado também (outra contradição), com sua grandiosa carga cultural, científica e tecnológica, além da beleza de seus templos.
Complexo, por contar, em um mesmo território, com vários grupos religiosos (notadamente hinduístas e muçulmanos, havendo ainda cristãos, jainistas e siquis, que são três minorias) e numerosas castas (basicamente quatro, mas subdivididas em milhares). A complexidade gerada pela existência de confrontos entre as duas principais religiões do país, poderosas e com milhões de seguidores (hinduísmo versus islamismo), foi diretamente responsável pelo surgimento de três países, antes unidos durante a colonização britânica: Índia (de maioria hindu, em 1947), Paquistão (de maioria muçulmana, em 1947) e Bangladesh (antigo Paquistão Oriental, de maioria muçulmana, em 1971).
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Índia, Paquistão e Bangladesh. Os três países que Gandhi queria ver unidos.
Fonte: The World Factbook, 2014. |
A síntese de tudo isso, de tudo que há de contraditório e complexo na sociedade indiana, se refletiu na luta de um homem, que viria a ser consagrado pela humanidade como um dos maiores líderes espirituais de todos os tempos: Mohandas Karamchand Gandhi, o "Mahatma" Gandhi. Uma das maiores atrações da Índia é, sem dúvida, a casa onde Gandhi atendia seus seguidores e foi assassinado, que tivemos a honra de visitar.
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Cenas da vida de Gandhi, com toda a simplicidade, em um quadro na casa de Nova Délhi. Índia. |
Mahatma Gandhi nasceu na cidade indiana de Porbandar, em 1869, falecendo em Nova Délhi em 30 de janeiro de 1948. Foi um líder pacifista que pregava a não violência como forma de se concretizar a independência da Índia em relação à Inglaterra - o país foi colônia britânica de 1858 a 1947. Advogado de formação, após um período fora do país - viveu na África do Sul, também colônia britânica, por alguns anos - abandonou sua profissão e iniciou a luta pela independência indiana pregando a desobediência civil e a não violência. Muitas vezes acabou preso, mas também era constantemente libertado, uma vez que Gandhi era a única pessoa apta a controlar as multidões no território indiano. Gandhi morreu, no entanto, sem conquistar o seu objetivo, que era unir hindus e muçulmanos em um só país, em convivência pacífica - o país foi dividido em dois, depois em três. Morreu ainda por obra de um hindu insatisfeito com o rumo das negociações, que redundaram, com apoio da Inglaterra, na divisão entre Índia (maioria hindu) e Paquistão (maioria muçulmana).
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Uma estátua de Ghandi em sua bela casa em Nova Délhi. |
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O último encontro de Gandhi foi com Sardar Patel, pouco antes do assassinato. |
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"Simplicidade é a essência da universalidade". Uma das muitas frase do grande líder indiano. |
A casa onde Gandhi viveu seus últimos dias ('Gandhi Smriti") é hoje um museu e memorial, que conta a história do Mahatma, rica de fatos e gestos fraternais, pacífica na essência e antimaterialista.
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A casa de Gandhi em Nova Délhi. |
O caminho que Gandhi seguia todos os dias para atendimento aos fiéis, e que também foram seus últimos passos antes da morte, estão bem representados em sua casa.
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Os passos de Gandhi. Ali ele atendia os seus seguidores, mas também são os passos de sua morte. |
É fantástico ver na casa do grande líder indiano os apetrechos que se tornaram símbolos de sua luta, a exemplo de seus óculos e seu relógio, que hoje estão expostos por lá. É o quarto de Gandhi, um dos pontos altos da visitação.
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Entrada para o quarto de Gandhi. Nova Délhi, Índia. |
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Os famosos óculos de Gandhi, em exposição na sua casa. |
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O relógio de Gandhi, que parou de funcionar na hora que ele foi assassinado. |
A casa dos últimos 144 dias de Gandhi é muito bonita. Muita natureza e paz, evocando a espiritualidade característica do Mahatma.
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Ao fundo, o local onde Gandhi atendia seus seguidores. |
Gandhi viveu nessa casa de 09 de setembro de 1947 até o dia de sua morte, em 30 de janeiro de 1948.Foi adquirida pelo governo da Índia em 1971 e passou a ser o memorial que é hoje a partir de 1973.
Fica em Nova Delhi, na 5 Tees January Marg.
Vale destacar como dica o filme "Gandhi", de 1982, dirigido por Richard Attenborough e estrelado por Ben Kingsley - os dois ganharam o prêmio máximo do cinema. Ganhou no total oito Oscars, contando em detalhes a vida do grande líder indiano. Na primeira cena do filme, a do assassinato, a casa aparece em detalhes.
Em que pese ser um grande líder e também bastante admirado no exterior, muitos indianos, notadamente os "intocáveis" ("dálits") preferem exaltar Ambedkar, o "Babasaheb", como o maior líder da classe menos privilegiada. Segundo relatos históricos, o verdadeiro defensor da abolição do sistema de castas indiano é justamente o jurista Ambedkar; Gandhi adotava uma postura ambígua, chegando a defender o sistema discriminatório, o que causou insatisfação nos menos favorecidos. Mas isso é história para um post específico.
Uma visita interessante na capital indiana.